Desejo de ser mãe solteira
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta que decidiu ser mãe solteira, apesar de todas as críticas que está recebendo. Mas ela não está sozinha. Cada vez mais mulheres subvertem a expectativa da nossa cultura: primeiro se apaixonar, depois se casar e, após um ou dois anos, ter um filho.
Há alguns anos, nos Estados Unidos, há alguns anos, a discussão sobre a mãe solteira chegou à Casa Branca e um seriado de televisão foi severamente criticado. A personagem era uma mulher moderna que ignorava a importância da figura do pai. No ato de ser mãe solteira estaria implícita a ideia de que o papel do homem como pai é desnecessário. Quanto à necessidade do esperma deles para a procriação, por enquanto, nenhuma mulher duvida, mas muitas afirmam que o resto podem tranquilamente fazer sozinhas.
A instituição "Mães solteiras por opção" foi oficializada em 1981 e já inaugurou mais de 20 sedes nos Estados Unidos e três no Canadá. Desde essa época o número de mulheres na faixa dos 30 anos que têm filhos sem casar triplicou. Uma mãe solteira declarou que o que as mulheres procuram são parceiros confidentes, companheiros, amigos e amantes. Alguém para sair junto, brincar, rir, fazer compras, experimentar roupas. E como os homens não são criados para isso, nem desejam uma relação de igualdade, não tem jeito.
É claro que não faltam críticas a essas ideias. Muitos se sentem chocados, acusando essas mães de só pensar nelas em detrimento da criança. É comum se dizer que, criada sem a presença do pai, a criança terá dificuldades emocionais pela vida afora. Mas será que é verdade mesmo ou apenas mais uma das afirmações que as pessoas repetem apenas por hábito?
Todos sabemos que o simples fato de uma criança ser educada dentro de uma família tradicional não lhe garante uma vida adulta mais saudável. Quanto à ausência da figura paterna, surgem novos questionamentos. Há quem afirme que o fundamental para a criança é se sentir amada, respeitada e valorizada, e que em nenhum momento aparece a necessidade de duas presenças físicas, uma masculina e outra feminina, para que isso ocorra. Shere Hite vai mais longe ainda.
Ela afirma que em suas pesquisas, realizadas com centenas de famílias e crianças, descobriu que os meninos criados apenas pelas suas mães e não pelo casal parecem ter mais facilidade, quando adultos, em estabelecer relações humanas consequentes e responsáveis, e se tornam homens mais corajosos e mais íntimos no relacionamento humano. O motivo? Os pais machistas, que costumam ser emocionalmente distantes dos filhos e até fisicamente agressivos. O modelo de comportamento transmitido leva os filhos a fugir das emoções calorosas, da empatia e da compreensão.
A questão é que as mulheres, talvez por terem sido mais oprimidas, quebraram primeiro os modelos que as aprisionavam ao estereótipo feminino de passividade e medo e puderam assim exercer seus aspectos de força, coragem e ousadia. Os homens que não acompanharam essas mudanças ficaram perdidos. Uma autora afirmou: "As mulheres não podem conquistar sua emancipação sem levar os homens junto. Não há mal em mudar o conceito de feminino, mas se isso não for feito com os homens também, eles acabarão sendo um peso morto".
Ora, e de quem é a responsabilidade? Não resta dúvida de que seria ótimo que homens e mulheres usufruíssem, em condição de igualdade, do prazer de criar um filho, contribuindo ambos para sua formação. Mas é importante ressaltar que o problema que se apresenta agora não é a criança, e sim como muitos homens ainda se comportam. Para não ser excluído do processo de transformação das mentalidades que está ocorrendo, perdendo a chance de uma vida mais satisfatória, o homem precisa ter coragem de, por conta própria, aceitar o fim da ideologia patriarcal que impede, há cinco mil anos, uma sociedade de parceria entre homens e mulheres.
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