Amor: do virtual ao real
Comentando a Pergunta da Semana
A grande maioria das pessoas que responderam à enquete da semana já saiu com alguém que conheceu pela internet. Em muitos casos tudo começou com um amor virtual, bem antes de combinarem um encontro em algum outro lugar. Mas ainda há quem olhe essa forma de relacionamento com desconfiança.
Esses acreditam que se trata apenas de fantasias solitárias de pessoas carentes. "Como é possível amar uma pessoa sem poder vê-la, tocá-la, sentir seu cheiro?", perguntam. Penso, entretanto, que essa estranheza ocorre porque qualquer forma de pensar e viver diferente da que estamos habituados gera insegurança e medo. Afinal, o novo assusta. Ainda mais no que diz respeito aos relacionamentos amorosos.
Na verdade, não é possível julgar negativamente os relacionamentos virtuais em favor dos reais, porque nos dois casos estamos diante de processos culturais e sociais de construção de uma experiência que nunca é natural. Observando a história, percebemos que os comportamentos amorosos humanos são extremamente variados, sendo impossível encontrar uma forma universal de amor. Grandes diferenças distinguem o amor vivido na Antiguidade, na Idade Média e na modernidade.
"Os amores virtuais não devem ser entendidos como amores incompletos, artificiais, desviantes, menores, e sim como amores plenos, ainda que de um tipo novo e estranho. A história do amor é a de uma sucessão de artifícios e neste momento estamos diante de mais um, tão artificial quanto todos os outros.", diz Márcio Gonçalves, professor da UERJ, que pesquisou o tema.
O historiador inglês Theodore Zeldin vê vantagens nos relacionamentos virtuais. "Pode ser interessante de duas formas: a primeira é as pessoas exercitarem ser o que não são, desempenhando papéis. A segunda forma é ao dizer coisas que normalmente não diriam, se não estivessem no anonimato. Com isso podem ser mais sinceras. Por último, ajuda numa habilidade, muito importante, que é o flerte. Você tem que aprender como se tornar atraente para outra pessoa. Há uma troca humana de interesses. Quando duas pessoas têm uma relação de qualidade entre elas, com respeito pelo outro, isso ajuda a mudar o mundo."
Num primeiro encontro virtual, as pessoas conversam e marcam novos encontros. Na hora combinada ficam ansiosas, exatamente como ao vivo. Quando o outro se atrasa para entrar no chat, vem logo aquela sensação tão conhecida do medo da rejeição. Apaixonar-se pela Internet não é muito diferente do que acontece na vida real.
Os internautas podem adotar um nome fictício e também mentir a respeito de muitas coisas para garantir o anonimato e parecer mais atraente: idade, profissão, lugar onde moram, etc. Contudo, mesmo desejando conquistar o outro, ninguém consegue mentir no que de fato importa: características de personalidade como sensibilidade, generosidade, inteligência, humor e também a visão que a pessoa tem do mundo, são transmitidas desde o primeiro momento.
Após vários encontros virtuais, muitos se sentem íntimos e, dependendo do estado de excitação, se decidem pelo sexo virtual. Concordo com o teólogo e escritor Leonardo Boff quando diz: "A Internet abre um novo universo de relações humanas, possibilitando ao ser humano realizar aquilo que efetivamente é: um nó de relações voltado para todos os lados. No jogo de relações de todo tipo — comerciais, culturais, e outras que se dão via Internet — se dá também a relação afetiva. Daí pode surgir enamoramento e paixão."
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