A antiga desconfiança entre os sexos

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

As opiniões se dividiram entre quem respondeu à enquete da semana quanto à incompatibilidade entre os sexos.

Quando coloco essa questão num grupo de debate são descritos temores que homens e mulheres vivem na relação com o sexo oposto. Os mais citados são: infidelidade, temor de ser dominado (a), invasão de privacidade, não merecer o respeito do outro, não ser amado( a), solidão a dois, rotina.

Já ouvi também uma sugestão interessante: As mães têm que mudar a educação machista que dão aos filhos. Parece que os medos são muitos, mas não é sem razão.

Quando o patriarcado — sistema social que se caracteriza pelo poder do homem — se instalou entre nós há cinco mil anos, dividiu a humanidade em duas partes – homens e mulheres -, e colocou uma contra a outra.

É evidente que a maneira como as relações entre homens e mulheres se estruturam — dominação ou parceria — traz implicações decisivas para nossos papéis cotidianos e nossas opções de vida.

A fidelidade feminina sempre foi uma obsessão para o homem, que queria proteger a herança e garantir a legitimidade dos filhos. A incompatibilidade começou por aí. A esposa passou a ser sempre suspeita, uma adversária que tinha que ser vigiada o tempo todo.

Temendo golpes baixos e traições (eles consideravam a mulher possuidora de uma sexualidade insaciável) lançaram mão de várias estratégias: manter as mulheres confinadas em casa, cinto de castidade e até a extirpação do clitóris para limitar as pulsões eróticas.

Esse antagonismo entre os sexos impediu uma amizade e um companheirismo verdadeiros, fazendo com que a relação entre homem e mulher se deteriorasse, cheia de desconfiança, ressentimentos e temores. Esse tipo de coisa pode não ser percebido hoje claramente, mas está em nosso inconsciente afetando nosso dia-a-dia.

Mas felizmente o patriarcado, com todos os seus valores de dominação, está saindo de cena. Acredito que dentro de algumas décadas, quando o homem também superar a crise da masculinidade que está vivendo neste momento, poderemos assistir à parceria entre homens e mulheres e percebê-los muito mais compatíveis do que são hoje, inclusive no sexo.