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Regina Navarro Lins

A conquista de quem desejamos

Regina Navarro Lins

16/07/2013 07h02

Paquera num bar

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana não acredita em cantada irresistível. Há, entretanto,casos de sedução bem curiosos.

Silvia, uma jornalista de 43 anos relata como iniciou sua relação amorosa com um colega de trabalho. "Eu não tinha percebido que Júlio estava interessado em mim e só o via como amigo. Numa noite, em que fomos a um restaurante comemorar o aniversário de nosso chefe, ele se sentou ao meu lado na mesa. Até aí nada demais. A conversa estava animada entre as dez pessoas, quando de repente senti um suave, discreto e constante carinho no meu cotovelo. Demorei um pouco a entender que Júlio estava se declarando, mas era uma sensação tão gostosa que deixei meu braço onde estava. Eu, que tinha acabado de sair de um relacionamento e estava decidida a ficar um tempo sozinha, não resisti à essa cantada. Estamos juntos desde então"

Apesar da originalidade da cantada do "cotovelo", não acredito que exista uma cantada que ninguém resista. A mesma cantada pode ser irresistível para uma pessoa e completamente sem graça para outra. Na realidade, pode até ter o efeito contrário: afastar qualquer possibilidade de conhecimento.

Para se conquistar alguém é fundamental que o comportamento não seja o mesmo de sempre, estereotipado. Algumas mulheres gostam de cantadas, não tão diretas, mas também ousadas, que denotem confiança e decisão. Outras, entretanto, preferem aquela quase imperceptível, que vem do homem tímido.

Os homens não deixam de ter suas preferências. Há os que não resistem à mulher que toma a iniciativa, admiram sua coragem e se entregam a ela sem titubear. Outros detestam mulheres tão decididas, alegando que se sentem desconfortáveis fora do papel de conquistador.

Percebendo isso, algumas mulheres usam estratégias para não se mostrar tão atiradas. Uma delas me contou que estava numa festa e queria muito se aproximar de determinado homem, que conversava numa roda de amigos. O que ela fez? Simulou uma queda e ele teve que ampará-la nos braços. Ficaram juntos três anos. Antigamente deixavam cair coisas mais leves, como lenços.

Homens inseguros necessitam testar o tempo todo seu poder de sedução. Na verdade, eles não desejam uma pessoa específica, o que querem é conquistar alguém para se certificar que são machos. A mulher percebe não existir interesse real por ela e pode recusar, não estando disposta a representar o papel de coadjuvante das afirmações pessoais do homem.

Muitos que se separam após longo período de casamento apresentam um comportamento curioso. O homem se sente desprotegido, perdido no mundo, como um passarinho que não consegue viver fora da gaiola. Quando sai com amigos para avaliar se está sendo desejado, é muito comum ficar confuso.

Numa mesa de bar com várias mulheres conversando, ele lança olhares, faz caras e bocas para todas. Assim não consegue conquistar nenhuma, claro. Ou então, basta uma mulher dar uma olhada de relance e pronto. Ele já entende isso como conquista consumada. Aproxima-se cheio de si e se frustra. Depois de tanto tempo limitado por uma vida típica de casado, ele perdeu a sintonia fina para interpretar os sinais e perceber quando pode ir em frente.

Ainda há mulheres acreditando que só serão valorizadas se tiverem um par amoroso. A busca vai se tornando incessante e elas se fazem lindas, vão de bar em bar, de festa em festa, esperando que os homens as percebam e tomem a iniciativa. Estão sempre prontas a rejeitar qualquer contato físico mais íntimo, imaginando que dessa forma tornam-se mais desejáveis.

Penso que a cantada terá mais chance de êxito se houver espontaneidade e um interesse verdadeiro pela outra pessoa. Não existindo situações iguais, só as singularidades do outro sendo percebidas podem abrir um canal para a comunicação afetiva.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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