Topo

Regina Navarro Lins

Por que o desejo acaba no casamento

Regina Navarro Lins

13/07/2013 08h53

Marido e mulher na cama e ele lendo

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da mulher que se queixa do marido por ele não lembrar que sexo existe. Geralmente, num casamento o desejo sexual vai diminuindo na mesma medida em que aumenta a amizade, o carinho e o companheirismo. O sexo é o maior problema enfrentado pelos casais, mas não é fácil alguém aceitar, num casamento tão idealizado por todos, que os dois com o tempo foram se transformaram em irmãos.

Até a década de 1940, a importância da atração sexual entre o casal se colocava depois de vários outros aspectos como a fidelidade, o caráter, e principalmente da divisão das tarefas e preocupações. As mudanças começaram a ocorrer mais claramente em meados do século. A valorização do amor conjugal, sob todos os pontos de vista, sobretudo o sexual, começou a se manifestar.

A ausência de desejo no casamento só passou a ser problema quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso. Esse conceito teria sido incompreensível para as mulheres, em certas épocas, dadas à desinformação, à ameaça de gravidez e até mesmo à condenação do desejo e realização sexual.

Jornais, revistas e programas de TV fazem matérias, tentando encontrar uma saída para a falta de desejo sexual no casamento. Como resolver a situação de casais que, após alguns anos de vida em comum, constatam decepcionados não haver mais desejo?

Alguns dizem que é necessário quebrar a rotina e ser criativo, o que não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário. Quando não há tesão, a pessoa só quer mesmo dormir. Outros dão sugestões concretas: ir a um motel, viajar no fim de semana, visitar uma sex-shop. Contudo, quem se angustia com essa questão sabe que as sugestões apresentadas de nada adiantam. Desejo sexual não se força, existe ou não.

Mas por que o desejo acaba no casamento? Mesmo que os dois se gostem, a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Desejo sexual está ligado a magia, encantamento, descoberta nossa e do outro. Numa relação estável é raro isso ocorrer. Busca-se muito mais segurança que prazer.

Para se sentirem seguras, as pessoas controlam o outro, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de tesão. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, pode provocar a perda do desejo sexual. Mas o que fazer quando o desejo acaba?

Essa é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. É fundamental todos saberem que na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim fato inerente a qualquer relação prolongada, em que a exclusividade sexual é exigida. Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do desejo. O preço é a decepção de ver se dissipar o ideal do par amoroso.

No entanto, a partir daí fica mais fácil cada um decidir o que fazer da vida. As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar, há muito sofrimento. Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, como se sexo não existisse. E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro