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Regina Navarro Lins

O custo da intimidade

Regina Navarro Lins

29/06/2013 09h22

Namorada temendo contato

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do homem que teme estabelecer uma relação de intimidade com as mulheres com quem se relaciona. Lendo seu relato, lembrei-me da Roma Antiga.

Os romanos, há dois mil anos, desenvolveram a ideia de prudência, visando evitar o sofrimento do amor. Para não se deixar escravizar por uma mulher, mantinham distância em relação a ela, evitando qualquer intimidade. Caso um homem se sentisse fragilizado pela sua paixão, tentava desqualificar a mulher, exacerbando aspectos dela que lhe causavam repulsa.

O romano devia se satisfazer com as relações mais fáceis sem deixar-se perturbar pelas emoções. Se, contudo, alguma mulher começasse a afetar o homem prudente, inspirando-lhe amor, ele deliberadamente lhe estudava os defeitos, de modo a contemplá-la em retrato de corpo inteiro.

Ao invés de lhe admirar, ele percebe que ela é suja, que possui seios balançantes e que faz uso da linguagem sem escrúpulos. O homem prudente lembra a si mesmo que até a mais bela mulher faz as mesmas coisas que a mulher feia: sua, elimina dejetos e abafa os cheiros corporais com perfume.

Não tenho dúvidas de que nosso comportamento hoje é afetado pela forma de pensar e viver dos nossos antepassados. Vinte séculos depois, observamos muitos homens com dificuldade de estabelecer uma relação de intimidade com a parceira. Historicamente, a intimidade é bem mais fácil para a mulher. Nas culturas patriarcais, os homens sempre cuidaram da guerra, da política, de ideias, e para as mulheres restou o mundo "menos importante", o dos sentimentos.

As pessoas inseguras supõem que a intimidade as tornam vulneráveis e tendem a viver este fenômeno como uma situação perigosa, às vezes até angustiante, e a sentir um grande medo dela. A intimidade é temida pelos mais variados motivos. Pelo receio de nos entregarmos a ela, de nos fundirmos com o outro, de ficarmos desprotegidos.

O psicólogo italiano Willy Pasini diz que a intimidade exige o abandono da couraça que protege o que temos de mais íntimo: quanto mais a intimidade é compartilhada, mais o outro tem livre trânsito aos nossos aspectos mais secretos. Mas só uma autoestima elevada permite viver tal "despir-se" como oportunidade, e não como ameaça.

Quem pensa que deve esconder as partes de si consideradas inconfessáveis vive a intimidade como se fosse um risco pessoal. Ter uma relação de intimidade significa entrar na vida do outro sem perder o sentido da própria identidade.

Para isso é necessário haver uma forte autonomia individual. Quer dizer recebermos o outro dentro no nosso território íntimo sem por isso achar que fomos invadidos ou contaminados. A intimidade também comporta a capacidade de ficarmos atentos às nossas próprias sensações.

Muitos conseguem ter intimidade sexual, mas não amorosa. Amar significa enfrentar riscos afetivos, significa expor-se. Quem tem dificuldade nos contatos íntimos, geralmente, é fechado numa couraça. Todo processo de amadurecimento pessoal consiste nessa progressiva conquista de uma cada vez maior confiança em si mesmo. Só nessas condições uma pessoa poderá baixar a guarda sem medo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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