Fidelidade não tem nada a ver com sexualidade
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria, 63%, que respondeu à enquete da semana, já foi infiel. Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, são muito comuns as relações extraconjugais. Todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, religião – nos estimulam a investir nossa energia sexual em uma única pessoa. Mas na prática uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.
Durante muito tempo se acreditou que só os homens tinham relações múltiplas. Mas quando surgiu a pílula, e as mulheres entraram no mercado de trabalho, houve uma mudança no comportamento feminino. Para o pesquisador Anthony Thompson, do Instituto de Tecnologia da Austrália, a probabilidade de que o marido ou a mulher venham a ter um caso é de 76%.
Contudo, um dos pressupostos mais aceitos em nossa sociedade é o de que o casal monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual, sendo tão superior que não necessita ser questionado. Na verdade, nossa cultura coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre o assunto dos relacionamentos alternativos é muito rara.
As sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais. Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento, livremente escolhidas, também devem ser consideradas.
Em 1976, o psicoterapeuta e escritor Roberto Freire tomou como base a letra da música de O Seu Amor, de Gilberto Gil, para a discussão da sua proposta de amor libertário. O seu amor/ame-o e deixe-o livre para amar/O seu amor/ ame-o e deixe-o ir aonde quiser/ O seu amor/ame-o e deixe-o brincar/ame-o e deixe-o correr/ ame-o e deixe-o cansar/ame-o e deixe-o dormir em paz/O seu amor/ame-o e deixe-o ser o que ele é
Na música de Gil, é ressaltada a ideia de que o verdadeiro ato de amor é o que garante a quem amamos a liberdade de amar, além e apesar de nós e de nosso amor. Ele acredita que apesar de muita gente considerar que essa ideologia amorosa é pura utopia, quase todos sonham com essa possibilidade.
Entretanto, o adultério não é nada simples. O conflito entre o desejo e o medo de transgredir é doloroso. Mas reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. Será que não está na hora de começarmos a questionar se fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.