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Regina Navarro Lins

Fidelidade não tem nada a ver com sexualidade

Regina Navarro Lins

22/01/2013 20h28

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria, 63%, que respondeu à enquete da semana, já foi infiel. Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, são muito comuns as relações extraconjugais. Todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, religião – nos estimulam a investir nossa energia sexual em uma única pessoa. Mas na prática uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.

Durante muito tempo se acreditou que só os homens tinham relações múltiplas. Mas quando surgiu a pílula, e as mulheres entraram no mercado de trabalho, houve uma mudança no comportamento feminino. Para o pesquisador Anthony Thompson, do Instituto de Tecnologia da Austrália, a probabilidade de que o marido ou a mulher venham a ter um caso é de 76%.

Contudo, um dos pressupostos mais aceitos em nossa sociedade é o de que o casal monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual, sendo tão superior que não necessita ser questionado. Na verdade, nossa cultura coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre o assunto dos relacionamentos alternativos é muito rara.

As sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais. Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento, livremente escolhidas, também devem ser consideradas.

Em 1976, o psicoterapeuta e escritor Roberto Freire tomou como base a letra da música de O Seu Amor, de Gilberto Gil, para a discussão da sua proposta de amor libertário. O seu amor/ame-o e deixe-o livre para amar/O seu amor/ ame-o e deixe-o ir aonde quiser/ O seu amor/ame-o e deixe-o brincar/ame-o e deixe-o correr/ ame-o e deixe-o cansar/ame-o e deixe-o dormir em paz/O seu amor/ame-o e deixe-o ser o que ele é

Na música de Gil, é ressaltada a ideia de que o verdadeiro ato de amor é o que garante a quem amamos a liberdade de amar, além e apesar de nós e de nosso amor. Ele acredita que apesar de muita gente considerar que essa ideologia amorosa é pura utopia, quase todos sonham com essa possibilidade.

Entretanto, o adultério não é nada simples. O conflito entre o desejo e o medo de transgredir é doloroso. Mas reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. Será que não está na hora de começarmos a questionar se fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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