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Regina Navarro Lins

O “estupro corretivo” é um casamento entre o preconceito e o crime

Regina Navarro Lins

02/11/2017 11h16

Apesar de se tratar de uma violência sexual contra a mulher, o estupro para "corrigir" a orientação sexual de mulheres é diferente do estupro contra mulheres heterossexuais. "Há nele um requinte de machismo associado à lesbofobia, o que traz uma enorme crueldade.", explica Irina Karla Bacci, mestre em direitos humanos e cidadania pela Universidade de Brasília, ex-ouvidora do Ministério de Direitos Humanos, ao UOL.

Segundo Irina, nesses crimes, os abusadores agem com mais violência, por considerarem a mulher mais frágil, mas, por ser lésbica, merecer "sofrer como um homem". É comum também a pregação, com frases como "vai aprender a gostar de homem"

Entre as vítimas está Laís, 25 anos, que ouviu durante o ataque questionamento  se ela era homem ou mulher e agressões verbais do tipo: "Toma, mulher macho!"

O "estupro corretivo" é um casamento entre o preconceito e o crime, muitas vezes com o consentimento quase inacreditável dos pais da vítima. O resultado para a mulher que sofre o suposto "corretivo" é dramático. A recuperação é lenta e difícil.

O Senado aprovou, em agosto do corrente ano, proposta de emenda à Constituição que torna imprescritíveis os crimes de estupro. Isso quer dizer que não há mais limite temporal para a denúncia.

Muitos são os casos em que a vítima teme revelar quando e de quem foi vítima, porque o ataque partiu de alguém da família, um pai por exemplo, ou alguém que conhece a vítima, caso do pastor de Olinda (PE) acusado de estuprar uma adolescente em 2015.  Ele descobriu uma relação homoafetiva da menina e resolveu tomar as "providências".

A saída é a denúncia, a lei e o fim dos preconceitos contra a homossexualidade, que deve ser ensinada nas escolas a ser percebida como tão normal quanto a heterossexualidade. Por meio da educação e do fim do machismo, será possível que essa barbárie seja confrontada e, num futuro sonhado, banida.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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