Temor de que os filhos sofram com a separação leva pais a suportarem o insuportável
A questão da semana é o caso da internauta, casada há cinco anos, que não sente mais nada pelo marido. Diz que o convívio com ele está insuportável, mas o que a prende em casa é o temor do filho de quatro anos sofrer com a separação.
Ao contrário do que muitos pensam, não acredito que a separação dos pais faça os filhos sofrerem, e sim a culpa que os pais absorvem ou a incompetência deles para lidar naturalmente com a situação.
Muitas crianças são usadas por uma das partes para agredir a outra. Além disso, nenhuma criança merece o peso de ser responsável pela infelicidade dos pais, que por ela fizeram o sacrifício de permanecer num casamento péssimo. Criança precisa ser amada, valorizada e respeitada.
Mas o temor de que a separação afete negativamente os filhos não é raro.
Paulo, um médico de 38 anos, me procurou no consultório por causa da crise que está vivendo com sua mulher e a separação iminente.
"As brigas lá em casa estão se tornando insuportáveis. A única saída que vejo é acabar com esse casamento, que já vai mal há muito tempo. Sei que não vai ser fácil ficar sozinho, mas a minha maior preocupação maior são meus filhos. Não suporto a ideia de vê-los sofrer, e se tornarem jovens inseguros… Meus pais acham que eu deveria mudar de ideia e não sair de casa, ou seja, acham que eu deveria me sacrificar pelas crianças. Será que essa é mesmo a melhor opção?"
Apesar de todas as inseguranças dos pais, separações ocorrem cada vez com maior frequência. E isso teve início quando o amor entrou no casamento, por volta de 1940.
Até então os casamentos se davam apenas por interesses econômicos e políticos. As expectativas eram de que o marido fosse provedor e respeitador.
A esposa deveria ser boa dona de casa e mulher respeitável. A partir da entrada do amor na relação do casal as expectativas mudaram.
Passaram a ser de realização afetiva e prazer sexual. Quando uma dessas duas falha, os casais acabam se separando.
Muito se falou que a separação dos pais estaria diretamente ligada a filhos com problemas emocionais. Mas isso não se confirmou.
A socióloga americana Constance Ahrons acompanhou por 20 anos um grupo de 173 filhos de divorciados. Ao atingir a idade adulta, o índice de problemas emocionais entre esse grupo era equivalente ao dos filhos de pais casados.
Além disso, Ahrons observou que eles "emergiam mais fortes e mais amadurecidos que a média, apesar – ou talvez por causa – dos divórcios e recasamentos de seus pais"
É certo que a mudança das mentalidades demora algumas vezes mais de cem anos para se concretizar, mas isso não importa, desde que se abra um espaço definitivo para a autonomia de homens e mulheres.
Enquanto isso, sorte de quem tem coragem para aproveitar este momento, em que, felizmente, a culpa e os sacrifícios estão sendo substituídos pela possibilidade de uma vida mais satisfatória.
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