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Regina Navarro Lins

É preciso aprender a ser só

Regina Navarro Lins

10/12/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, casado há 24 anos, cuja esposa alega que houve desgaste na relação e que necessita liberdade e independência e ninguém para atrapalhá-la. Ela se mudou para a casa de uma amiga. A dúvida dele é se aceita logo a decisão dela ou insiste em continuar o casamento.

No Ocidente, desde cedo, somos levados a acreditar que a vida só tem graça se encontrarmos um grande amor. Quando acontece, a expectativa é a de que vamos nos sentir completos para sempre, nada mais nos faltando.

Isso é impossível, evidente, mas as pessoas se esforçam para acreditar e só desistem depois de fazer inúmeras concessões inúteis.

A história que o internauta relata parece ser igual à de muitas pessoas que, ao iniciar um relacionamento, transformam o outro na única fonte de interesse.

O grande dilema no amor hoje se situa entre o desejo de simbiose – ficar fechado numa relação – e o desejo de liberdade. E este último parece estar predominando.

Entretanto, não é fácil deixar o hábito de formar um par. Fomos condicionados a desejá-lo, convencidos de que se trata de pré-requisito para a felicidade.

Após longos anos de casamento, geralmente, passa a ser fundamental continuar tendo alguém ao lado, pagando-se qualquer preço, mesmo quando predominam as frustrações.

Não ter um par significaria não estar inteiro, ser incompleto, ou seja, totalmente desamparado. Deixar de ser amado ou desejado afeta a autoestima, e as inseguranças reaparecem. A pessoa se sente desvalorizada, duvidando de possuir qualidades.

E para piorar tudo, não são poucos os que abrem mão da liberdade e da independência, tornando-se mais frágeis em caso de ruptura.

A condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e "salvadora" de alguém.

O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos.

É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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