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Regina Navarro Lins

Amar várias pessoas ao mesmo tempo pode vir a ser um comportamento comum

Regina Navarro Lins

26/11/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, que tem duas namoradas e uma sabe da outra. A sua intenção é levar ambas para a cama ao mesmo tempo. Pergunta se isso é um distúrbio.

Amar várias pessoas ao mesmo tempo, práticar sexo a três….Desde os anos 60, assistimos a comportamentos amorosos e sexuais impensáveis em outras épocas. Mas essa história tem um ponto de partida.

Após a Segunda Guerra, com a destruição de Hiroxima e Nagasaki, a ameaça da bomba atômica paira na cabeça dos jovens. Com o sentimento de insatisfação que isso provoca, eles começam a questionar os valores de seus pais.

Muitos deles, principalmente nos Estados Unidos, se recusam a dar continuidade a um estilo de vida que consideram medíocre e superficial.

Ao contrário de se enquadrar nos papéis determinados pela sociedade, estavam dispostos a buscar uma verdadeira liberdade, com emoções diferentes e novas sensações.

Surge a Geração Beat, composta de jovens intelectuais americanos que, em meados dos anos 50, resolvem – regados a jazz, drogas, sexo livre e pé-na-estrada – fazer sua própria revolução cultural através da literatura.

Os beatniks produziram livros de poesia e prosa com uma marca muito própria. Eram, essencialmente, contestadores do sistema americano, aquele que ficou conhecido como American Way of Life e que os EUA exportam para todo o planeta.

O rock'n'roll é uma novidade que libera toda essa juventude do conformismo. Imoralidade, luxúria, sexualidade desenfreada, estas palavras enchiam as manchetes dos jornais.

O novo ritmo incentivou o comportamento rebelde em relação à sociedade, um comportamento ofensivo para os conservadores. Os jovens não perdiam tempo no momento em que seus hormônios fervilhavam.

O rock'n'roll se expande. Quando Elvis Presley rebolava os quadris sensualmente, e a TV da época só podia mostrá-lo da cintura para cima, era sinal de que a revolução sexual estava começando.

Os beats abriram essa porta e a geração seguinte fez muito sexo ao som de Jimmi Hendrix ou com a voz rouca de Janis Joplin ao fundo.

Mas essa mudança só foi possível porque o desenvolvimento tecnológico permitiu que um novo produto chegasse ao mercado.

A pílula anticoncepcional é a principal responsável pela mudança radical. de comportamento amoroso e sexual observado a partir dos anos 60 .

O sexo foi definitivamente dissociado da procriação e aliado ao prazer. As mulheres se libertaram da angústia da maternidade indesejada.

Essa geração foi a primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita por todas as gerações anteriores.

A descoberta da possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva mais rica, mais diversificada, foi a grande revelação. Todo mundo podia transar com todo mundo.

Como o renascimento dos séculos 15 e 16, a contracultura das décadas de 1960/70 alterou as correlações de força na sociedade, desfez preconceitos, ridicularizou falsos poderes, legitimou movimentos que surgiam e criou novos paradigmas culturais que vieram para ficar, como o modo de vestir, fazer arte e se relacionar.

Os movimentos Hippie, Gay, Feminista e o Black Power surgiram desse renascimento, todos explodindo em maio de 68 como um tsunami de ideias.

No momento, estamos no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades. É bem possível que daqui a 20 ou 30 anos o amor e o sexo sejam vividos de forma totalmente diferentes da que vivemos atualmente.

Mas os sinais das mudanças estão aí. O relato do internauta é apenas mais um exemplo disso.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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