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Regina Navarro Lins

Exigência de fidelidade no casamento contribui para perda de tesão

Regina Navarro Lins

22/10/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, de 33 anos, cuja esposa nos últimos três anos não quer mais saber de sexo. Ele diz ser um bom marido, faz tudo que ela quer, a trata com carinho e quando vão deitar ela já dormiu e nem encostou nele, que diz viver mal há anos.

Vários internautas se identificaram com ele e declararam se encontrar na mesma situação. Selecionei alguns comentários:

"Passo por um problema parecido, no inicio de namoro me sentia em um filme erótico, após o casamento e com os problemas cotidianos, filhos, contas, trabalhos isso foi ficando no passado e me sinto de alguma forma enganado uma vez casando e dividindo a mesma cama, sexo seria ou teria tudo para ser mais corriqueiro. Não foi. Cheguei a ficar 14 meses sem uma relação com minha esposa (…)"

"Eu passo por situação parecida. Tenho 45 e minha mulher é 6 anos mais nova, muito bonita e gostosa. Mas é devagar que só ela. Estamos cadados há 15 anos e sofro desde o início por causa disso. E ela tb é muito monótona na cama. Depois de muita conversa e até briga, percebi que não tinha jeito e comecei a resolver a parada do meu jeito: saindo com garotas de programa. As brigas pararam, mas meu tesão por ela não. Ela é gostosa demais, e era um martírio ter um mulherão do seu lado e não poder usufruir por completo. (…)"

"Amigo (vou passar minha condição), tenho 51 anos, casado há 27, tenho uma relação de muito respeito e carinho com minha esposa, uma excelente pessoa! Porém tenho o mesmo problema da MAIORIA dos casados, o DESINTERESSE SEXUAL por parte dela. Já fiquei muitos dias e até meses de cara virada, não falava com ela (por causa da falta de sexo), já me estressei muito. E hj em dia vivo muito bem com ela, há muito tempo nós não brigamos mais e vivemos em harmonia! Sabe o que fiz? Arrumei uma mulher que adora fazer sexo, e a gente transa muito gostoso, aliás há muito tempo não transava tão bem assim! Nos encontramos quase toda semana, umas 3 horas de muito prazer e sexo, e às vezes ainda damos uma fugidinha no meio de semana e fazemos uma rapidinha!..(…)"

"Amo minha mulher, porém ela também não me atende no sexo. Daí descobri o amor pelas prostitutas e toda semana procuro referido serviço. Me sinto em um rodízio de carne humana. Sou feliz assim e minha mulher também, já que ela não sabe. Uso camisinha. Me julguem."

"Eu fiquei um ano e meio casado e não aguentei ficar muito sem sexo. Ficamos mais de um mês sem. Todo dia era uma desculpa diferente, hoje eu solteiro e ela com filho de outro cara, ela quer voltar. Hoje em dia estou de boa, não caso com mais nenhuma. Se fosse exceção uma ou outra até que ia, tenho conversado com amigos que continuam casados e é sempre final triste."

Isso representa o que ocorre em grande parte dos casamentos. Parece mesmo, ao contrário do que se pensa, que o casamento é onde menos se faz sexo. É muito maior do que se imagina o número de mulheres que fazem sexo com seus maridos sem nenhuma vontade.

Dor de cabeça, cansaço, preocupação com trabalho ou família são as desculpas mais usadas. Elas tentam tudo para postergar a obrigação que se impõem para manter o casamento.

Quando o marido se mostra impaciente, o carinho que sente por ele, ou o medo de perdê-lo, faz com que a mulher se submeta ao "sacrifício" .

Não foi à toa que, há algumas décadas, o filósofo inglês Bertrand Russell afirmou: "O casamento é para as mulheres a forma mais comum de se manterem, e a quantidade de relações sexuais indesejadas que elas têm que suportar é provavelmente maior no casamento do que na prostituição."

O número de homens que perdem o desejo sexual no casamento é bem menor do que o de mulheres. Para cada homem que não tem vontade de fazer sexo há pelo menos quatro mulheres nessa situação.

Alguns fatores podem contribuir para isso. Em primeiro lugar, o homem, na nossa cultura, é estimulado a iniciar a vida sexual cedo e se relacionar com qualquer mulher.

Outra razão seria a necessidade de expelir o sêmen e, por último, a sua ereção seria mais rápida do que a da mulher, na medida em que necessita de menos quantidade de sangue irrigando seus órgãos genitais.

Não é necessário dizer que existem exceções, e que, em alguns casais, o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão.

Até algumas décadas atrás, ter filhos era um dever do casal. Da mesma forma que antes deveria ficar em segredo o ardor entre o casal, se houvesse, agora se tenta ocultar a diminuição ou o término do desejo sexual entre marido e mulher.

Essa questão só passou a ser problema —o maior enfrentado pelos casais— quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso. Jornais, revistas e programas de tevê fazem matérias, tentando encontrar uma saída para a falta de desejo sexual no casamento.

Mas por que o desejo acaba no casamento? Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, pode provocar a perda do desejo sexual, independentemente do crescimento do amor e de sentimentos como admiração, companheirismo e carinho.

Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também é responsável pela falta de tesão. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista.

O que fazer quando o desejo acaba é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar há muito sofrimento.

Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse. E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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