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Regina Navarro Lins

Apesar de ainda causar surpresa, mulher trai tanto quanto homem

Regina Navarro Lins

16/08/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana acredita que a infidelidade da mulher é tão comum hoje quanto a do homem. Mas muitos se surpreendem com isso.

Rogério, um engenheiro de 42 anos, sente-se deprimido desde que descobriu que sua mulher teve uma relação extraconjugal. "Quando converso com Joana sobre o fato de ela ter transado com outro homem, ela diz que me ama e alega que foi uma atração sexual momentânea. Não sei o que pensar, pois sempre acreditei que transar fora do casamento fosse natural para o homem, nunca para a mulher. Ela só desejaria ter sexo com o marido; não suportaria a culpa de traí-lo."

A infidelidade feminina tem uma história cruel, na medida em que sempre foi uma obsessão para o homem. A preocupação era proteger a herança e garantir a legitimidade dos filhos. Isso tornou a esposa sempre suspeita, uma adversária que requer vigilância absoluta. Temendo golpes baixos e traições, os homens lançaram mão de variadas estratégias: manter as mulheres confinadas em casa sem contato com outros homens, cinto de castidade e até a extirpação do clitóris para limitar as pulsões eróticas.

As adúlteras são apedrejadas, afogadas fechadas num saco, trancadas num convento ou, como acontece hoje no Ocidente, espancadas ou mortas por maridos ciumentos, protegidos por leis penais lenientes com os crimes passionais. Ao homem, por não haver prejuízo para sua linhagem, sempre teve o direito de infidelidade conjugal.

Desde a infância foi ensinado à mulher que ela deveria fazer sexo apenas com o marido. Isso fez com que se sentisse culpada no caso de ter uma relação extraconjugal. Mas o cenário não é mais o mesmo, hoje o sentimento de culpa da mulher quase desapareceu completamente.

As pesquisas confirmam isso, como a do New York Post que concluiu que nove entre dez mulheres não nutrem qualquer tipo de sentimento de culpa.

Apesar de no século 19 muitas teorias terem sido criadas afirmando que a mulher não se interessa por sexo, que seu único prazer seria cuidar dos filhos, isso não corresponde à visão predominante na história da sexualidade humana.

A antropóloga americana Helen Fisher acredita que se tivéssemos perguntado a Clellan Ford e a Frank Beach, pesquisadores sexuais dos anos 50, qual dos dois sexos era mais interessado na variedade sexual, eles teriam respondido:

"Naquelas sociedades que não têm padrões duplos nas questões sexuais, e em que é permitida uma variedade de ligações, as mulheres utilizam tão ansiosamente suas oportunidades quanto os homens."

O pesquisador Alfred Kinsey concordava dizendo: "Mesmo naquelas culturas que tentam com mais rigor controlar o coito extraconjugal feminino, está absolutamente claro que tal atividade ocorre, e em muitos casos ocorre com considerável regularidade."

O duplo padrão do adultério – homem pode, mulher não – está desaparecendo. Durante cinco mil anos os homens acreditaram ser somente deles esse direito. Mas começam a pensar diferente. A pílula anticoncepcional, possibilitando o movimento de emancipação feminina e a revolução sexual, foi fundamental para a mudança das mentalidades.

Shere Hite, no seu estudo com 7239 homens, relatou que 72% dos casados há mais de dois anos tiveram relações extraconjugais. Estes dados, tanto para mulheres quanto para homens, foram depois verificados por outros pesquisadores.

A pesquisa que fiz no meu site comprovou os resultados apresentados por Hite. Quase duas mil pessoas – homens e mulheres – responderam. Dessas, 72% declararam já ter tido relações extraconjugais.

E Anthony Thompson, do Instituto de Tecnologia da Austrália Ocidental, argumenta que a probabilidade de que o marido ou a mulher terão um caso possa ser tão alto quanto 76%.

Os estudos também demonstram que duas novas tendências surgiram: ambos os sexos começaram a ter relações extraconjugais mais cedo que nas décadas anteriores, e o padrão duplo foi corroído.

Todos esses dados nos levam a suspeitar que as mulheres têm relações extraconjugais com a mesma satisfação, e talvez até com a mesma avidez que os homens.

Muitos ainda acreditam que as mulheres fazem sexo para ter amor e os homens dão amor para ter sexo. Esse padrão de comportamento, assim como a ideia de que a mulher só tem relação extraconjugal motivada por uma grande paixão, e o homem só para fazer sexo, estão saindo de cena.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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