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Regina Navarro Lins

Quando o desejo sexual chega ao fim

Regina Navarro Lins

17/05/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana afirma que o tesão pelo parceiro diminui com o tempo.

Selecionei duas mensagens que recebi e ilustram bem o que ocorre na vida sexual de muitos casais.

"Estou casada há 24 anos. Quando me casei pensava ter encontrado o príncipe encantado. No começo sentia muito tesão pelo meu marido. Era, por assim dizer, louca por ele. Continuamos vivendo e transando, mas eu sinto que o encantamento acabou. Nós temos gostos e opiniões diferentes. Só fico com ele, porque resido na Europa, e na verdade não tenho para onde ir. Uma coisa é certa; não teria condições de me sustentar sozinha. Já tivemos muitas brigas. Minha vontade seria sumir daqui, mas não sei nem como. E assim o tempo vai passando, e eu vou ficando."

"Estou casada há sete meses e moro na casa da minha sogra, até que termine a nossa casa. Tenho 25 e ele 29 anos. Meu problema é o seguinte: Meu marido sempre entra em sala de chat com o tema de sexo e também em sites pornográficos, apesar de não admitir. Sofro muito com isso, porque de um tempo pra cá sinto que ele está se afastando de mim, não me procurando mais para ter relações. Nos seus dias de folga do trabalho, ele fica quase um tempo enorme na frente do computador, fazendo sei lá o que, e depois não me quer mais, entende? Às vezes, sinto-me uma inútil. Fico me perguntando: será que ele gosta de mim realmente?; por que está comigo?; existe algo de errado com a gente, será que não o satisfaço sexualmente? Fico muito confusa, nervosa e não consigo esconder o que estou sentido, fico emburrada, mas não abro o jogo com ele, pois sei que vai falar que não faz isso tudo que citei. Acho que não mereço isso. Há cerca de dois dias, descobri um e-mail dele, que só tem mensagens de anúncios de troca de casais, sexo a três e fotos que ele recebe pela internet. Fiquei muito chateada e não sei o que fazer da minha vida."

Para muitos não existe nada mais repetitivo e sem graça do que se relacionar sexualmente com a mesma pessoa por tempo prolongado. Mesmo que se gostem, a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com o tesão.

Desejo sexual está ligado à magia, encantamento, descoberta nossa e do outro. Numa relação estável prolongada isso é difícil. Busca-se muito mais segurança que prazer.

Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade sexual, o que é limitador e também responsável pela falta de tesão. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Esta é uma verdade que ninguém gosta de ouvir: no convívio amoroso dentro do modelo de casamento vivido na nossa cultura, salvo raras exceções, só existe tesão mesmo no início e por algum tempo.

Casamento e desejo sexual raramente caminham juntos. Todos sabem disso, mas da mesma forma que fazem com outros aspectos da vida a dois, fingem não saber.

Há algum tempo, o diretor da unidade de doenças cardiovasculares da Organização Mundial de Saúde, sem se dar conta, reforçou essa ideia. Ele recomendou exercícios moderados e saudável atividade sexual a doentes do coração.

Mas acrescentou que o sexo deveria ser praticado em casa, por ser menos excitante. E existe uma conhecida afirmação popular que diz que, se um homem transa com uma única mulher durante 30 anos, é um tarado sexual.

Mas o que fazer quando o tesão acaba? Essa é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. É fundamental todos saberem que na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim fato inerente a qualquer relação prolongada.

Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do tesão. O preço é a decepção de ver se dissipar o ideal do par amoroso. No entanto, a partir daí fica mais fácil cada um decidir o que fazer da vida.

As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar, há muito sofrimento. Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse. E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo.

Na realidade, o que se oculta em qualquer uma dessas possibilidades é a dependência e o medo de ficar desamparado. É importante que se comece a desenvolver a capacidade de ficar bem sozinho, sem necessitar do outro. Talvez ninguém tenha percebido ainda que isso é uma das coisas mais importantes de se ensinar às crianças no processo de socialização.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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