Topo

Regina Navarro Lins

Perigo entre as pernas

Regina Navarro Lins

30/04/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta que tem um ótima convivência com a namorada, mas a vida sexual entre eles não existe. Ele diz ficar excitado, mas na hora de penetrá-la, não consegue. Fica tenso de se imaginar entrando nela. Teme que ela não aguente isso por muito tempo.

O pintor francês, Gustave Courbet, um dos pais da arte realista, no século 19, é autor do quadro A Origem do Mundo, obra que até hoje espanta o público que visita o Museu D'Orsay, em Paris. É uma tela que retrata uma vagina em primeiro plano. Apenas detalhe de um corpo de mulher como milhões de outras, mas surpreende, provoca espanto e repulsa.

Há algum temor e assombro pelo pênis do homem, mas nada que se compare à vagina. Muitos mitos estão associados ao risco que correm os machos durante a penetração. O mais estranho deles é o da "vagina dentada". Ameaça que pode devorar o poder do homem.

Em torno do órgão sexual feminino há vários mitos inexplicáveis. Os aborígines da Nova Zelândia acreditam que "a vulva destrói o homem". Os nativos da região central da Austrália atribuem poder de fogo à vagina, o que tornaria mortal a penetração peniana. Chamam-na de "casa da morte e da desgraça" e "buraco destruidor".

O psicólogo alemão Erich Neumann relata um desses mitos. Nele "um peixe habita a vagina da Mãe Terrível; o herói é o homem que vencer a Mãe Terrível, quebrar os dentes da sua vagina, e então a tornar numa mulher".

A vagina é representada nos mitos como insaciável, devoradora, caverna sem fundo que leva o seu invasor ao mais terrível inferno. Há inclusive uma associação que é feita, na Índia, com as feras, por imaginar-se que a vagina é dentada, uma imensa boca de monstro.

O pênis do homem seria decepado por tal monstruosa garganta. Esse medo é ligado inicialmente ao sangue menstrual, assustador e doentio, já que é objeto de imensa quantidade de tabus, mas também o sangue da defloração, que muitos acreditam trazer azar.

Alguns autores asseguram que esses mitos são transcrições diretas do poder feminino e do medo masculino. O horror de ser castrado no momento do sexo atribui poder às mulheres.

A vagina dentada acentua o mistério da sexualidade feminina, especialmente da anatomia genital e seu poder. No mito as mulheres podem guardar seus desejos sexuais para os homens, assim como controlar a entrada do homem dentro dela, mais do que o inverso.

Na Idade Média, no século 12, textos indicavam que o desejo sexual da mulher era incontrolável e, portanto, o melhor caminho era manter distância delas. Aqueles que por alguma razão familiar ou profissional precisassem tê-las por perto, o mais aconselhável era que as guardassem trancadas, como recomendava Etienne de Fougère, bispo francês. A alegação do religioso era a de que mulheres soltas buscariam satisfação com qualquer homem.

Hoje, apesar de essas crenças sobre a vagina e a sexualidade feminina serem vistas como absurdas, inconscientemente parecem exercer enorme influência em alguns homens. O medo que sentem no momento de penetrar a parceira indica que está na hora de buscar ajuda terapêutica com algum profissional competente.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro