Por que a separação é tão difícil?
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta casada há 19 anos e que se sente muito infeliz. Ela não suporta a presença do marido ao seu lado. Diz sentir nojo dele. A questão é que ela nunca trabalhou e não tem como se separar.
"Eu me divorcio de você; eu me divorcio de você; eu me divorcio de você." Assim mesmo, repetido três vezes pelo homem. Essa é uma das maneiras mais aceitáveis, em algumas partes do mundo islâmico, para se terminar um casamento. Porém, a esposa não deve estar no seu período menstrual e o casal não pode ter relações sexuais nos três meses seguintes, senão o divórcio é anulado.
De um jeito simples ou complicado, com raiva ou tranquilidade, o fato é que em todas as partes do mundo as pessoas se divorciam. E ao contrário da nossa cultura, que faz do divórcio uma questão moral, alguns povos encaram com naturalidade a dissolução do casamento.
Um bom exemplo são os mongóis da Sibéria, que simplesmente adotam o óbvio ao estabelecer que "se duas pessoas não conseguem viver juntas, é melhor que vivam separadas". E chegamos ao extremo, na velha China, onde uma lei permitia ao homem se divorciar da esposa tagarela.
Entretanto, mesmo quando considerada necessária, ainda que a relação seja insatisfatória e o parceiro não preencha as necessidades afetivas e sexuais do outro, a separação não deixa de ser uma experiência dolorosa, na maior parte das vezes. Mas, afinal, por que é tão difícil se separar? São várias as razões.
Desde cedo somos levados a acreditar que a vida só tem graça se encontrarmos um grande amor. Se acontece, a expectativa é a de que vamos nos sentir completos para sempre, nada mais nos faltando. Isso é impossível, evidente, mas as pessoas se esforçam para acreditar e só desistem depois de fazer inúmeras concessões inúteis.
E quando a frustração se torna insuportável, então se separam. Em alguns casos o ódio surgido entre o casal resulta do sentimento de ver traída a expectativa que tanto alimentaram. Imaginavam que através da relação amorosa se colocariam a salvo do desamparo, e que encontrariam a mesma satisfação que tinham no útero da mãe, quando os dois eram um só.
Além disso, deixar de ser amado ou desejado afeta a autoestima, e as inseguranças reaparecem. A pessoa se sente desvalorizada, duvidando de possuir qualidades. E para piorar tudo, na maioria dos casamentos, homens e mulheres abrem mão da liberdade e da independência, tornando-se mais frágeis em caso de ruptura.
Assim, o parceiro rejeitado não é o único a sofrer. Quem não deseja mais permanecer junto fica ressentido por não sentir, agora, prazer na convivência e responsabiliza o outro por isso. A dificuldade de desfazer a fantasia do par amoroso idealizado pode levar um casal a constantes tentativas de restabelecer o antigo vínculo, mesmo sabendo que não existe nenhuma chance.
O fim do casamento pode ser vivido como uma tragédia se as pessoas acreditarem que é uma união para a vida toda e que só é possível ser feliz formando um par amoroso. Mas o sofrimento será menor em algumas casos: se o casamento for considerado um vínculo temporário — enquanto for satisfatório para ambos; se há perspectiva de uma vida social interessante; se existe liberdade sexual para novas experiências; se o fato de se estar só não for sinônimo de desamparo.
Contudo, há também quem sinta alívio na separação. Nesse caso, a nova vida significa oportunidade de crescimento e desenvolvimento pessoal, podendo ser acompanhada de forte sensação de renascimento.
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