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Regina Navarro Lins

É possível viver bem sem um par amoroso

Regina Navarro Lins

02/02/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana acredita ser possível viver feliz sem um par amoroso. Mas esse resultado não corresponde ao que, segundo pesquisas, muitos pensam. A busca de uma vida a dois, muitas vezes, se torna desesperada.

A ideia de que quem não está com um par amoroso vive só é uma premissa falsa, a menos que alguém se mude para uma cabana na selva. Nas cidades somos cercados por pessoas o tempo todo e é quase impossível sobreviver sem conviver.

A literatura, o cinema e a música, a produção cultural, enfim, alimentam o mito do casal há séculos. Mas um estudo da Universidade de Auck¬land, na Nova Zelândia, feita com neozelandeses de 18 a 94 anos, revelou que, diferentemente das pessoas que buscam a vida a dois, aquelas que preferem evitar conflitos são mais felizes solteiras, independentemente do gênero ou do período da vida em que se encontram.

As redes sociais aproximaram as pessoas mais do que nunca. O isolamento que muitos previam tornou-se o seu contrário. O preço que se paga é alto para viver com alguém que te cobra um modo de ser por sua companhia.

Entretanto, a relação estável está consolidada no Ocidente. Fomos convencidos a acreditar que o amor se dirige a uma só pessoa. Nossa busca pela outra metade é incessante e às vezes desesperada.

O surgimento de um possível parceiro é um sonho a ser alimentado até o absurdo de reconstruirmos em nossa imaginação uma outra pessoa com características que preencham o modelo projetado.

E o tempo só consolida o aspecto mais grave: a necessidade imperiosa de ter alguém ao lado custe o que custar. Abrir mão dessa pessoa significa se sentir incompleto, desamparado.

Aí é que entra o amor romântico, que promete o encontro de almas e a fusão dos amantes, acenando com a possibilidade de transformar dois num só, da mesma forma que na fusão original com a mãe.

Após a década de 1940, passamos a associar mais intimamente casamento a amor. A entrada do amor romântico fez do casamento meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas, sendo a sociedade ocidental a única a assumir o risco de ver esse tipo de união ser estabelecido sobre o amor de um casal.

Para viver bem sozinho é necessário desenvolver a autonomia pessoal. A busca de uma experiência amorosa e sexual que exclua a dependência emocional do outro. Acima de tudo é importante a valorização dos amigos e dos laços afetivos.

Conviver com nossas singularidades, e o prazer que essa condição pode nos trazer, viabiliza a mudança necessária para vivermos bem sozinhos, ou seja, sem um par amoroso. Isso, além de nos tornar mais aptos para o relacionamento com o outro, nos faz entender que estar só não significa necessariamente solidão.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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