Existência após o amor
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso é o caso do internauta que diz ter agido de maneira egoísta com sua parceira ao terminar a relação com ela. Mas se arrependeu, e voltaram. De uns tempos para cá, sente que deixou de ser prioridade na vida dela, não se sente mais amado, e sofre bastante.
A ideia de deixar de ser amado é apavorante. Ela conduz a duas outras possibilidades nefastas: viver mal com a pessoa que imaginamos nos completar ou encarar a separação. E é grande o medo de se separar.
Medo de ficar só, de sentir a falta do outro, de não encontrar um novo amor, do desamparo, de não conseguir se sustentar, de se sentir jogado fora. Então, para evitar essa hipótese paga-se qualquer preço.
Em tais momentos o anseio amoroso de todo ser humano parece ser o de recuperar a sensação de harmonia vivida durante a fusão no útero e perdida no nascimento. A criança dirige intensamente para a mãe sua busca de aconchego.
As relações amorosas do adulto funcionam mal porque a maioria tende a reeditar inconscientemente com o parceiro a relação típica da infância. E isso fica claro na forma como se vive o amor, só se aceitando como natural se for um convívio possessivo e exclusivo com uma única pessoa.
Existe uma resistência geral em admitir que o amor pode ser vivido de forma intensa e profunda fora de uma relação entre duas pessoas. O amor romântico alimenta a idéia de que é possível a fusão entre duas pessoas, ou seja, de que elas podem se transformar numa só — da mesma forma que vivemos com a mãe antes de nascer.
Desde muito cedo somos levados a acreditar no casamento, como única forma de realização afetiva. Passamos a vida esperando o momento de encontrar a pessoa certa, para, a partir daí, vivermos felizes para sempre.
Em muitos casos, sonhos e esperanças, por tanto tempo alimentados, desaparecem, dando lugar à desilusão, praticamente inevitável, depois de certo tempo. Por que a vida a dois não corresponde às expectativas nela depositadas?
A resposta mais provável reside no enorme descompasso entre a expectativa que se tem do casamento e a real possibilidade de satisfazê-la. Alimentados pelo mito do amor romântico, homens e mulheres esperam que através do casamento as pessoas que se amam se tornem uma só.
Desistem de seus prazeres e projetos pessoais, se afastam dos amigos, sempre apostando na satisfação mágica de todas as necessidades. Participam sem cerimônia da vida do outro, mas o controle sufocante que daí decorre não é evitado. É aceito como necessário para garantir a complementação total.
As pessoas que já conseguiram se livrar da ilusão do amor romântico não têm medo de se perceberem sozinhas. Sabem que não podem resolver suas necessidades através do outro nem precisam dele para se sentir completas.
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