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Regina Navarro Lins

Relação aberta e ciúme

Regina Navarro Lins

12/12/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta, casada há 14 anos, que sempre teve uma relação aberta com o marido. Há seis meses ele começou a transar com uma moça e isso virou uma história de amor. Ela se dá bem com a outra, saem os três juntos a passeio e a recebem em casa. Atualmente ela está em conflito. Apesar de sempre ter defendido o amor livre, sente ciúme quando vê o meu marido acariciando a outra ou quando ele aparece todo satisfeito depois de terem feito sexo.

A antropóloga americana Helen Fisher conclui que nossa tendência para as ligações extraconjugais parece ser o triunfo da natureza sobre a cultura.

"Dezenas de estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges.", diz ela.

Pelo relato da internauta, tudo corria bem enquanto as relações extraconjugais não envolviam amor. Mas a partir do momento em que o marido se envolveu com outra mulher, ela foi tomada pelo ciúme. Ele parece deixar claro que está amando as duas.

O que era chamado de "relação aberta" a que a internauta se refere é hoje o Poliamor, um movimento organizado com a intenção de difundir a ideia de que é possível amar várias pessoas ao mesmo tempo.

A Wikpédia dá a seguinte definição: "Poliamor é a tradução livre para a língua portuguesa da palavra polyamory (Polyamory é uma palavra híbrida: poly é grego, e significa muitos, e amor vem do latim), que descreve relações interpessoais amorosas que recusam a monogamia como princípio ou necessidade."

Naturalmente, ninguém chega ao Poliamor de uma hora para outra, isto é resultado de um longo processo de desenvolvimento pessoal que, por enquanto, ainda gera conflitos.

É necessária toda uma revisão de conceitos, de condicionamentos culturais e emocionais, para ver as coisas a partir de um outro paradigma. Entretanto, os poliamoristas também sustentam o direito de qualquer um optar pela monogamia como escolha de vida e acreditam que essa seja a escolha certa para muitas pessoas.

O escritor Moacyr Scliar afirmava: "É possível amar muito mais de duas pessoas. Não estou falando em diferentes tipos de amor (amor aos filhos, amor aos pais), estou falando no relacionamento habitual. Aquilo que buscamos, que nos atrai, pode estar em muitas pessoas. E cada uma delas será objeto do nosso amor."

Mas afinal, por que se tem tanto medo de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? O psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa dizia que "somos por tradição sagrada tão miseráveis de sentimentos amorosos que havendo um já nos sentimos mais do que milionários, e renunciamos com demasiada facilidade a qualquer outro prêmio lotérico (do amor)".

E essa limitação afetiva se desenvolveu a partir da crença de que somente através da relação amorosa estável com uma única pessoa é que vamos nos sentir completos e livres da sensação de desamparo.

Não é à toa que exigimos que o outro seja tudo para nós e nos esforçamos para ser tudo para ele. Mesmo à custa do empobrecimento da nossa própria vida.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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