A dificuldade de ser gay
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que respondeu à enquete acredita que é difícil para um jovem se perceber gay.
Aceitar-se homossexual, apesar da crescente conscientização de que se trata apenas de uma singularidade, ainda é um problema para muitos. Numa sociedade que rejeita quem não se enquadra em modelos, ser homossexual é tão difícil como fazer parte de qualquer minoria.
Na Grécia clássica a atração entre dois homens era vista como manifestação legítima do desejo amoroso. Já na Idade Média, foi declarada crime. No século 19, a homossexualidade foi incorporada ao campo da medicina, passando a ser encarada pelos mais liberais como uma doença a ser tratada.
Apenas nos anos 60 – com os anticoncepcionais – houve a dissociação entre ato sexual e reprodução. E a homossexualidade, representante máxima dessa dissociação, tornou-se mais aceita. A partir daí, a prática homo e a hétero se aproximam e o sexo pode visar exclusivamente o prazer.
Esse é o momento histórico do surgimento do movimento gay, mostrando ao mundo que heterossexualidade não é a única forma de sexualidade normal. Em 1973, a Associação Médica Americana retira a homossexualidade da categoria de doença.
Mas isso não basta para acabar com o preconceito, porque a mentalidade patriarcal alimenta o ideal masculino de força, sucesso, poder, e insiste em associar masculinidade à heterossexualidade. O resultado é que, apesar de toda a liberação dos costumes, os gays continuam sendo hostilizados pela maioria das pessoas.
Geralmente é na adolescência que a orientação afetivo-sexual começa a ser percebida. É comum o adolescente se sentir diferente, não compartilhar dos mesmos interesses do grupo de amigos, mas não entender bem o que se passa com ele. Tenta negar a ideia de homossexualidade, pois sabe que isso decepcionaria a família, os amigos e a si próprio.
Com esse conflito interno, ele confunde amizade, amor e desejo sexual. Aceitar-se como homossexual é para a maioria um processo difícil, cheio de dúvidas e medos. Não há com quem conversar e surge a sensação de que vai ser rejeitado e nunca compreendido.
Para o jornalista e escritor inglês, radicado nos Estados Unidos, Andrew Sullivan, autor do livro Virtually Normal (Praticamente normal) "a experiência homossexual pode ser considerada uma doença, uma perturbação, um privilégio ou uma maldição; pode ser considerada digna de 'cura', retificada, abraçada ou suportada. Mas ela existe. E ocorre independentemente de suas formas de expressão; está inserida naquela área misteriosa e instável onde o desejo sexual e o anseio emocional se encontram; atinge o cerne do que faz um ser humano ser aquilo que ele ou ela é. A verdade é que, para a esmagadora maioria dos adultos, a condição homossexual é tão involuntária quanto o é para os heterossexuais".
A homossexualidade provoca preconceito e ódio. O nome dessa discriminação absurda é homofobia, ou seja, aversão ao homossexual. A homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si.
Por mais que se denuncie o absurdo que o ódio e a frequente agressão aos gays representam, a homofobia não deixará de existir num passe de mágica. Seu fim depende da queda dos valores patriarcais que, já em curso, vem trazendo nova reflexão sobre o amor e a sexualidade.
Caminhamos para uma sociedade de parceria, e se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser aceita simplesmente como uma diferença.
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