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Regina Navarro Lins

Sexo no primeiro encontro

Regina Navarro Lins

17/11/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae


 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete já fez sexo no primeiro encontro. Mas isso nem sempre é simples para muitas mulheres.

Desde que o homem descobriu que participa da procriação, mantém sob controle a sexualidade da mulher. E isso aconteceu há cinco mil anos, quando ele ficou obcecado pela certeza da paternidade, para só deixar a herança para os filhos legítimos.

No século 19, chegou-se a criar teorias para sustentar que a mulher não gosta de sexo, que seu único prazer é satisfazer o marido e cuidar dos filhos. É claro que, da década de 60 para cá, com todo o movimento de liberação sexual, essas ideias caíram por terra.

Hoje, todos sabem que homens e mulheres têm a mesma necessidade de sexo, e que a mulher pode ter tanto prazer quanto seu parceiro. Contudo, curiosamente, a maioria das pessoas finge não saber.

Se uma mulher foge ao padrão de comportamento tradicional, ou seja, não esconde que gosta de sexo, é inacreditável, mas ainda corre o risco de ser chamada de galinha ou de piranha.

As próprias mulheres participam desse coro, ajudando a recriminar as outras, que conseguiram romper a barreira da repressão e exercem livremente sua sexualidade. Não é nenhuma novidade, mais uma vez os próprios oprimidos lutando para manter a opressão.

Entretanto, para o homem, fazer sexo com uma mulher no mesmo dia em que a conhece é considerado natural, ele até se valoriza por isso. Há os que se dizem liberais, sem preconceitos, nada moralistas. Será? Para se ter certeza, é só perguntar o que elas acham da mulher que transa com um homem no primeiro encontro.

O sexo, quando vivido sem medo ou culpa, pode levar a uma comunicação profunda entre as pessoas. A maioria das mulheres se recusa a fazer sexo no primeiro encontro, mas não por falta de desejo.

É a submissão ao homem, ou seja, a crença de que tem que corresponder à expectativa dele. A partir daí inicia-se uma encenação, onde o script é sempre o mesmo: o homem pode fazer sexo, a mulher não.

Ele insiste, ela recusa. O tesão que os dois sentem é igual, mas ele continua insistindo e ela continua dizendo não. Ela acredita que, se ceder, ele vai desvalorizá-la e não vai se dispor a dar uma continuidade à relação. Vai sumir logo depois que gozar. E o pior é que muitos homens somem mesmo.

A luta interna entre os antigos e os novos valores não está concluída. Alguns se sentem obrigados a depreciar a mulher, que sentiu tanto desejo quanto eles, e não fingiu. "Ora, ela deveria saber resistir mais bravamente", pensam. Submissos ao modelo imposto, funcionam como robôs, aceitando que seja determinado com que mulher podem namorar ou casar.

Afinal, em que encontro a mulher pode fazer sexo com um homem? No segundo, terceiro, sexto? Qual? O grau de intimidade que você sente na relação com uma pessoa não depende do tempo que você a conhece.

Além disso, o prazer sexual também independe do amor ou do conhecimento profundo de alguém. Para um sexo ser ótimo basta haver muito desejo e vontade de obter e proporcionar prazer. E uma camisinha no bolso, claro.

Estamos vivendo um momento de transição, em que os antigos valores estão sendo questionados, mas novas formas de pensar e viver ainda causam medo pelo desconhecido. Há os que sofrem por se sentir impotentes para fazer escolhas livres. É preciso ter coragem.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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