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Regina Navarro Lins

Amor x Paixão

Regina Navarro Lins

27/10/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

Quase todas as pessoas que responderam à enquete acreditam existir diferença entre amor e paixão.

Êxtase, euforia, apreensão, dias inquietos, noites insones… Na paixão é possível estar entre muitas pessoas e ficar preso por uma única imagem. Todos desaparecem, até a realidade se afasta do cenário e a pessoa amada se torna a única presença significativa, a única que nos importa.

Entretanto, paixão, amor romântico e amor são sentimentos distintos, embora confundidos com frequência. A paixão é sem dúvida a que causa mais tormentas. Sua característica principal é a urgência; é tão invasiva e poderosa que pode fazer com que sejam ignoradas todas as obrigações habituais.

Perturba as relações cotidianas, arrancando a pessoa das atividades a que está acostumada, deixando-a completamente fora do ar. É comum se fazerem escolhas radicais e muitas vezes penosas — falta-se ao trabalho, larga-se o emprego, muda-se de cidade, abandona-se a família.

O ardor sexual é um componente importante da paixão e por isso mesmo ela nunca foi aceita como base para o casamento. Ninguém ousava criar ligações duradouras a partir de um amor apaixonado.

A paixão é de certa forma um fenômeno universal, mas o amor romântico é específico do Ocidente. Aproveitou alguns elementos da paixão, se diferenciando dela em importantes aspectos.

Ao contrário da paixão, em que ninguém consegue raciocinar, o amor romântico prevê uma vida a dois estável e duradoura. Geralmente ele está associado ao amor à primeira vista, ao casamento e à maternidade e também à crença de que o verdadeiro amor é para sempre.

Desde o início se "intuem" as qualidades da pessoa, e a atração que se sente ocorre na mesma medida em que se supõe que ela vai tornar completa a vida do outro. Por isso, a atração sexual que se sente no amor romântico é mais tranquila, bem diferente do tesão enlouquecido que se vive na paixão.

Os homens nunca tiveram problemas para resolver a questão entre o amor romântico, carinhoso e terno do casamento e a paixão sexual pela amante. E a vida seguia em frente com o confinamento da sexualidade feminina ao casamento, e a mulher orgulhosa por ser considerada "respeitável".

Na base do amor romântico observa-se a influência de um conjunto de práticas que povoam as mentalidades amorosas desde o século 12, quando surgiu o amor cortês.

Entre elas estão: a não aproximação dos corpos, comunhão de almas propostas pelo cristianismo, a idealização do bem amado, abdicação ao amor a si próprio, completa fidelidade. Nesse tipo de amor espera-se que o outro preencha um vazio só percebido depois que a relação se inicia.

Falta falar do amor sem projeções e idealizações, que existe por si mesmo, só para amar e ser amado. O que se sente nesse amor? Prazer de estar com alguém, vontade de dividir nossas questões existenciais, participar da vida do outro e permitir que ele participe da nossa, ser solidário, torcer pela pessoa, sentir saudades.

E claro que é possível amar muito uma pessoa e sentir tesão por ela. Ou não sentir tesão nenhum. Isso não faz a menor diferença no amor.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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