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Regina Navarro Lins

Amores livres

Regina Navarro Lins

05/09/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta cujo marido começou a se relacionar com uma amiga e diz estar apaixonado por ela, mas ao mesmo tempo diz amar e desejar muito a esposa. Declara desejar ter um relacionamento amoroso com as duas.

O amor é uma construção social, e em cada época da História ele se apresentou de uma forma. O amor romântico, pelo qual a maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseia, prega que os dois se transformam num só e, claro, não há interesse por nenhuma outra pessoa.

Mas a busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos; nunca homens e mulheres se aventuraram com tanta coragem em busca de descobertas, só que agora para dentro de si mesmos. Cada um quer saber de suas possibilidades, do desenvolvimento de seu potencial.

O sociólogo inglês Anthony Giddens chama de "transformação da intimidade" um fenômeno sem precedentes com milhares de homens e mulheres. Estimulados por amplos movimentos sociais estão tentando, consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.

Penso que para uma relação a dois valer a pena, alguns fatores são primordiais: Total respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e escolhas. Nenhuma possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro (a)

Poder ter amigos e programas em separado. Nenhum controle da vida sexual do parceiro (a), mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa. Poucos concordam com essas ideias, na medida em que é comum se alimentar a fantasia de que só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado.

O psicoterapeuta e escritor Roberto Freire afirma em seus livros que o verdadeiro ato de amor é o que garante a quem amamos a liberdade de amar, além e apesar de nós e de nosso amor. Ele acredita que apesar de muita gente considerar que essa ideologia amorosa é pura utopia, quase todos sonham com ela.

Não alimentando fantasias românticas de fusão com outra pessoa, cada um tem a oportunidade de se sentir inteiro, sem necessitar de outro para completá-lo. Aí então será possível descobrir as incontáveis possibilidades do amor e como ele pode se apresentar para cada pessoa em cada momento de diferentes maneiras. Amar e ser amado vai significar muito mais.

O movimento de emancipação feminina e a liberação sexual dos anos 60 trouxeram mudanças profundas na expectativa de permanência de uma relação conjugal. Surgiram muitas opções de lazer, de desenvolver interesses vários, de conhecer outras pessoas e outros lugares.

Hoje, é cada vez maior o número dos que optam por não estabelecer relações amorosas estáveis com uma única pessoa. Consideram a vida a dois um obstáculo à própria autonomia. Apreciam a descoberta, a aventura, a falta de rotina, o convívio com pessoas diferentes e, principalmente, não querem se sentir obrigados a fazer alguma coisa só para agradar ao outro. Portanto, não há dúvida de que as formas tradicionais de relacionamento amoroso se abrem para novas possibilidades.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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