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Regina Navarro Lins

Ciúme é tirano e limitador para quem é alvo e para quem sente

Regina Navarro Lins

29/08/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que diz amar demais o marido, mas é ciumenta e controladora. Não consegue ser feliz nem fazê-lo feliz.

De qualquer forma – discreto ou exagerado – o ciúme é sempre tirano e limitador. Não só para quem ele é dirigido, mas também para quem o sente. Há os que o consideram universal, inato. Outros julgam que sua origem é cultural, mas é tão valorizado, há tanto tempo, que é visto como parte da natureza humana.

Ralph Hupka, da Universidade do Estado da Califórnia, afirma que o ciúme é uma construção social: "É improvável que os seres humanos venham ao mundo 'pré-programados', digamos assim, para serem emocionais com qualquer coisa que não sejam as exigências de sua sobrevivência imediata."

Mas por que o ciúme é aceito como fazendo parte do amor? Por que se defende a sua presença numa relação amorosa, mesmo sabendo que o preço a pagar é tão alto? Encontramos ao menos parte da resposta na forma como o adulto aprendeu a viver o amor, que é em quase todos os aspectos, semelhante à forma da relação amorosa vivida com a mãe pela criança pequena.

Por se sentir constantemente ameaçada de perder esse amor — sem o qual perde o referencial na vida e também fica vulnerável à morte física — a criança se mostra controladora, possessiva e ciumenta, desejando a mãe só para si.

O historiador inglês Theodore Zeldin, considera o ciúme o corpo estranho que faz ameaça constante ao sexo como criador do amor. Para ele, foi o desejo de possuir — inevitável, talvez, enquanto a propriedade dominou todas as relações — que tornou os amantes tão inseguros, com medo da perda, e se recusando em aceitar que um amor tem de ser sentido outra vez todos os dias.

Durante muito tempo o casal foi formado por duas metades, representando uma unidade transcendente a cada uma das partes. Socialmente e psicologicamente um ficava incompleto sem o outro. O solteiro era visto como infeliz.

"A tendência atual não está mais ligada à noção transcendente do casal, mas antes à união de duas pessoas que se consideram menos como metades de uma bela unidade, do que como dois conjuntos autônomos. A aliança dificilmente admite o sacrifício da menor parte de si. É verdade que nossos objetivos mudaram e que não desejamos pagar qualquer preço para que o outro esteja presente ao nosso lado.", analisa a filósofa francesa Elisabeth Badinter. A consciência da própria individualidade faz com que uma das partes do casal desenvolva o respeito pela individualidade do outro.

O grande conflito do ser humano hoje se situa entre o desejo de simbiose — de ficar fechado numa relação a dois — e o desejo de liberdade. Pesquisa nos EUA e na Europa concluiu que o mundo está dividido em três partes. Um terço das pessoas anseia por liberdade, criatividade. Outro terço é cuidadoso, quer a rotina, a segurança, e não se preocupar. O último terço é composto por aqueles que estão incertos entre os dois.

Se a pessoa se preocupa com a estabilidade na relação, vai ser controladora, se tornando apreensiva, por exemplo, com cada amigo ou amiga que seu parceiro tenha. Isso impede que desenvolva a liberdade. Talvez não seja incompatível ter estabilidade com liberdade, desde que haja autoestima elevada e sinceridade nos afetos.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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