Fidelidade tem a ver com sexualidade?
Comentando a Pergunta da Semana
A grande maioria das pessoas que responderam à enquete já se relacionou com alguém casado. Alguns temem ser descobertos, outros nem tanto, como no relato abaixo.
"Sou casada e gosto de viver a minha privacidade; isso inclui casos extraconjugais. Mas não tenho intenção de me separar. Meu marido é um companheiro muito legal, mas a relação sexual está um pouco fria e, independente disso, gosto da minha liberdade, de ter um caso com outra pessoa. Acontece que noutro dia ele descobriu um caso que tenho. Não aceitou muito bem na hora, claro, faz parte da sua natureza machista. Não pretendo me separar nem acabar a minha outra relação, que me faz muito, muito bem."
Quando duas pessoas se casam, elas se sentem como que adquirindo um título de propriedade, e cada uma se acha no direito de exercer um controle sobre a outra, principalmente quanto ao corpo. A maioria de mulheres e homens casados têm proprietários. Alguns usam aliança no dedo para não deixar dúvidas de que têm dono, a quem devem satisfações.
Ambos são valorizados se cumprem o papel que a sociedade espera deles. E a expectativa em relação à mulher é que seja esposa e mãe. Portanto, a mulher que transa com homem casado, a amante, geralmente é vista como transgredindo os valores morais, a destruidora de lares.
Socialmente, muitos a desvalorizam, alegando que são inferiores por se contentar com migalhas. Várias expressões pejorativas são empregadas para mostrar como essas mulheres são percebidas. "Não ser a matriz, e sim, a filial", é uma das acusações que sofrem, além de terem que ouvir afirmações como: "Se ele te amasse, largaria a mulher para ficar com você."
Claro que tudo é diferente quando se trata do homem. Numa sociedade patriarcal, ele é valorizado quando se relaciona com a mulher casada. Afinal, imagina-se que ganhou a competição com o marido enganado. Não é isso que se espera de um homem? Força, sucesso, poder, coragem e ousadia.
O prestígio dele aumenta. Acredita-se que seja mais competente sexualmente do que o marido, que fica estigmatizado como "corno", e é acusado de não ter sabido segurar a mulher, de não saber se fazer respeitar.
Entretanto, a socióloga inglesa Catherine Hakim diz que ter um caso faz bem ao casamento. Em seu último livro ela explica porque as relações extraconjugais tornam os casais mais felizes.
Nos países com menor taxa de divórcio, os casos extraconjugais são mais aceitáveis e praticados. Ela compara os Estados Unidos com a Europa. No primeiro, onde não se tolera a mínima escapada, metade dos casamentos termina em divórcio.
Na Europa, há uma cultura de que a fidelidade sexual no casamento não é tão importante assim. Isso explicaria porque na Espanha e na Itália, a taxa de divórcio fica em torno de 10%. Nesses países, os estudos revelam a alta incidência de casais em que cônjuges já tiveram um ou mais casos durante o relacionamento.
As relações extraconjugais se tornam cada vez mais comuns para os dois sexos, e cresce o número de mulheres solteiras, separadas ou mesmo casadas, que se relacionam com homens casados. A diferença é que o homem divulga para se afirmar como macho e a mulher tende a guardar segredo, com medo de ser desvalorizada.
Uma relação extraconjugal pode ser apenas acidental e não rivalizar com a relação estável. Nesse caso não afeta a pessoa nem o casamento, que em alguns casos sai até reforçado. Desconfiar que o outro esteja também tendo um romance com alguém abala a certeza de posse e estimula a conquista, o que pode provocar o reaparecimento do desejo sexual.
É claro que, às vezes, a relação extraconjugal se torna mais intensa do que a do casamento, proporcionando mais emoção e prazer para as pessoas. Nesse caso, ou se aceita que faz parte da vida amar duas pessoas ao mesmo tempo, ou se separa.
Com toda a liberação sexual, a exclusividade nas relações amorosas passou a exigir mais esforço. O psicanalista W.Reich afirmava que nunca se denunciará bastante a influência perniciosa dos preconceitos morais nessa área. E que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual.
Apesar de todos os ensinamentos estimularem que se invista toda a energia sexual em uma única pessoa — marido ou esposa —, homens e mulheres são profundamente adúlteros. Talvez seja hora de se começar a questionar se fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade.
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