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Regina Navarro Lins

Filhos de pais separados

Regina Navarro Lins

20/06/2015 06h33

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso é o caso da internauta que tem dois filhos, de seis e sete anos, mas não está mais suportando o casamento. O marido é um bom pai, e ela teme o sofrimento que a separação pode causar aos filhos. Ao mesmo tempo, não quer pagar o preço de continuar casada.

A prática de se separar, quando uma relação não é mais satisfatória, se torna cada vez mais comum. Ao contrário do que muitos pensam, não acredito que a separação faça os filhos sofrerem, e sim a culpa que os pais absorvem ou a incompetência deles para lidar naturalmente com a situação.

Porém, os conservadores, agarrados a valores morais ultrapassados, tentam convencer os pais do sofrimento que vão causar às crianças . Há alguns anos a socióloga americana Judith Wallerstein acompanhou por 19 anos um grupo de famílias de classe média e concluiu que filhos de pais divorciados tinham mais problemas emocionais, menor rendimento escolar e pior autoestima que os filhos de casais "estáveis".

Portanto, os casais deveriam lutar para se manter juntos, pelo bem-estar das crianças. Poucos anos depois, o estudo de Wallerstein foi criticado por outros especialistas, que apontaram uma série de falhas e trouxeram à tona trabalhos mostrando um quadro diferente.

Descobriu-se que as 131 crianças estudadas pela socióloga vinham de um único condado da Califórnia, filhos de casais problemáticos, recrutados com a promessa de terapia gratuita. Metade dos pais e mães do estudo tinha problemas psiquiátricos, dos quais 20% eram considerados "severos", que resultavam em passagens policiais e tentativas de suicídio.

Um em cada quatro maridos batia na mulher diante dos filhos. Cerca de 30% dos casais haviam sido obrigados a subir ao altar por causa de uma gravidez inesperada, e metade das mães era desempregada crônica, do tipo condenado a viver do seguro-desemprego.

A socióloga Constance Ahrons, de Wisconsin, acompanhou por 20 anos um grupo de 173 filhos de divorciados. Ao atingir a idade adulta, o índice de problemas emocionais entre esse grupo era equivalente ao dos filhos de pais casados. Mas Ahrons observou que eles "emergiam mais fortes e mais amadurecidos que a média, apesar – ou talvez por causa – dos divórcios e recasamentos de seus pais"

Muitos casais, apesar do péssimo relacionamento, não admitem a possibilidade de separação por causa dos filhos. Nesses casos, os pais recusam-se a perceber que as crianças veem tudo, registram tudo e sofrem principalmente por aquilo que lhes é imposto sem que possam compreender.

Se os pais estão ansiosos, inquietos e insatisfeitos, seus filhos inevitavelmente se comportarão dessa forma. Aqueles pais que brigam, que se evitam ou que encontraram um equilíbrio de vida extremamente formal e frio funcionam como exemplo negativo, fazendo de seus filhos pessoas fechadas, desconfiadas e inseguras.

Agora, devido à importância dada ao desenvolvimento pessoal e à individualidade, observa-se nas pessoas que se separam nas últimas décadas, a consciência da necessidade de reconstruir uma identidade, de reestabelecer novos propósitos de vida.

Para a psicanalista Purificacion Barcia Gomes, "não cabe chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objetivo a ser realizado e vivido. E parece ser também essa mesma característica que contribui agora para a diminuição do sentimento de culpa em relação aos filhos na separação. Se antes horrorizava a uma mãe, senão a ambos os pais, expor os filhos a uma separação, pode se dizer que no casamento moderno, a culpa, embora não eliminada, foi reduzida pelo desejo e obrigação dos pais de 'viverem a sua própria vida', não mais sacrificando sua existência por amor aos filhos."

Apesar de estar aumentando o número de pais que ficam com a posse e guarda dos filhos, na maioria dos casos ela ainda é dada à mãe. Não são poucas as crianças que são usadas por uma das partes para agredir a outra. Isso é sem dúvida o que causa mais sofrimento às crianças quando os pais se separam.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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