Filhos de pais separados
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso é o caso da internauta que tem dois filhos, de seis e sete anos, mas não está mais suportando o casamento. O marido é um bom pai, e ela teme o sofrimento que a separação pode causar aos filhos. Ao mesmo tempo, não quer pagar o preço de continuar casada.
A prática de se separar, quando uma relação não é mais satisfatória, se torna cada vez mais comum. Ao contrário do que muitos pensam, não acredito que a separação faça os filhos sofrerem, e sim a culpa que os pais absorvem ou a incompetência deles para lidar naturalmente com a situação.
Porém, os conservadores, agarrados a valores morais ultrapassados, tentam convencer os pais do sofrimento que vão causar às crianças . Há alguns anos a socióloga americana Judith Wallerstein acompanhou por 19 anos um grupo de famílias de classe média e concluiu que filhos de pais divorciados tinham mais problemas emocionais, menor rendimento escolar e pior autoestima que os filhos de casais "estáveis".
Portanto, os casais deveriam lutar para se manter juntos, pelo bem-estar das crianças. Poucos anos depois, o estudo de Wallerstein foi criticado por outros especialistas, que apontaram uma série de falhas e trouxeram à tona trabalhos mostrando um quadro diferente.
Descobriu-se que as 131 crianças estudadas pela socióloga vinham de um único condado da Califórnia, filhos de casais problemáticos, recrutados com a promessa de terapia gratuita. Metade dos pais e mães do estudo tinha problemas psiquiátricos, dos quais 20% eram considerados "severos", que resultavam em passagens policiais e tentativas de suicídio.
Um em cada quatro maridos batia na mulher diante dos filhos. Cerca de 30% dos casais haviam sido obrigados a subir ao altar por causa de uma gravidez inesperada, e metade das mães era desempregada crônica, do tipo condenado a viver do seguro-desemprego.
A socióloga Constance Ahrons, de Wisconsin, acompanhou por 20 anos um grupo de 173 filhos de divorciados. Ao atingir a idade adulta, o índice de problemas emocionais entre esse grupo era equivalente ao dos filhos de pais casados. Mas Ahrons observou que eles "emergiam mais fortes e mais amadurecidos que a média, apesar – ou talvez por causa – dos divórcios e recasamentos de seus pais"
Muitos casais, apesar do péssimo relacionamento, não admitem a possibilidade de separação por causa dos filhos. Nesses casos, os pais recusam-se a perceber que as crianças veem tudo, registram tudo e sofrem principalmente por aquilo que lhes é imposto sem que possam compreender.
Se os pais estão ansiosos, inquietos e insatisfeitos, seus filhos inevitavelmente se comportarão dessa forma. Aqueles pais que brigam, que se evitam ou que encontraram um equilíbrio de vida extremamente formal e frio funcionam como exemplo negativo, fazendo de seus filhos pessoas fechadas, desconfiadas e inseguras.
Agora, devido à importância dada ao desenvolvimento pessoal e à individualidade, observa-se nas pessoas que se separam nas últimas décadas, a consciência da necessidade de reconstruir uma identidade, de reestabelecer novos propósitos de vida.
Para a psicanalista Purificacion Barcia Gomes, "não cabe chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objetivo a ser realizado e vivido. E parece ser também essa mesma característica que contribui agora para a diminuição do sentimento de culpa em relação aos filhos na separação. Se antes horrorizava a uma mãe, senão a ambos os pais, expor os filhos a uma separação, pode se dizer que no casamento moderno, a culpa, embora não eliminada, foi reduzida pelo desejo e obrigação dos pais de 'viverem a sua própria vida', não mais sacrificando sua existência por amor aos filhos."
Apesar de estar aumentando o número de pais que ficam com a posse e guarda dos filhos, na maioria dos casos ela ainda é dada à mãe. Não são poucas as crianças que são usadas por uma das partes para agredir a outra. Isso é sem dúvida o que causa mais sofrimento às crianças quando os pais se separam.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.