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Regina Navarro Lins

Amores múltiplos

Regina Navarro Lins

07/03/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que vive uma relação amorosa e sexual a três. Sempre transam os três juntos. Gostam bastante um do outro. A sua dúvida é se esse tipo de relação pode trazer algum prejuízo.

"Naquela noite dormimos juntos, abraçados na mesma cama, corpos nus embolados, sem sexo, porque estávamos cansados." Esta frase é parte do relato que ouvi no consultório sobre o dia a dia de um triângulo amoroso.

Muitos não aceitam esse tipo de amor, mas a psicóloga Noely Montes Moraes, que escreveu sobre o tema, acredita ser um equívoco buscar fundamentar a exigência de exclusividade, dando-lhe inclusive caráter de norma moral e até jurídica. Os estudos da etologia, da biologia e da genética não confirmaram a monogamia como padrão dominante nas espécies, incluindo a humana.

Os americanos Bárbara Foster, Michael Foster e Letha Hadady são escritores. Juntos, escreveram o livro Amor a três, no qual tratam dessa forma de amor, que experimentam há mais de 20 anos.

"Sejam célebres ou obscuros, os participantes dos ménages bebem todos das mesmas fontes de narcisismo, voyeurismo, e da irredutível necessidade de serem três. São todos testados no fogo do ciúme. A questão de quem é meu e a quem pertenço são repetidamente colocadas e respondidas.

Se o egoísmo prevalece, ainda que em um dos três, o relacionamento vai degenerar para um triângulo amoroso clássico, com suas espionagens, brigas, culpas, divórcio e violência. Mas se e quando um ménage cresce junto, uma energia especial pode e tem feito coisas fascinantes acontecerem – nas artes, no cinema ou na vida. Um ménage, como qualquer família, baseia-se na confiança."

Para eles, talvez o ménage à trois seja mal compreendido porque constrói uma estrutura emocional que é inclusiva. "O ciúme, que supomos natural, é o principal obstáculo. Mas uma ira ciumenta é tão estranha à natureza humana que a tratamos como uma compulsão; falamos de uma pessoa ciumenta como se ela tivesse sido arrebatada pelo monstro dos olhos verdes. Um ménage, ao contrário, exige escolha e consentimento mútuo."

O ménage tende a ser composto de dois membros do mesmo sexo e um do outro, e muito frequentemente começa com um casal inquieto. O arranjo tem às vezes destruído um casamento monogâmico, e outras vezes o tem fortalecido.

"Embora os partícipes dos ménages não sejam necessariamente bissexuais, a expectativa de que devamos nos limitar a um sexo, cônjuge ou família cria uma plataforma frágil, com probabilidade de afundar sob a torrente dos nossos desejos", dizem os autores.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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