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Regina Navarro Lins

Atração por interesse

Regina Navarro Lins

03/03/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A enquete de ontem foi sobre o fato de as pessoas ricas serem ou não mais atraentes para uma relação amorosa. Em vários outros temas do blog muitos internautas dizem que a mulher só está interessada na conta bancária do pretendente. Essa é uma história bem antiga, embora as mentalidades estejam mudando.

Quando o sistema patriarcal – de dominação do homem – se estabeleceu, há aproximadamente cinco mil anos, a mulher tornou-se um objeto que podia ser comprado, trocado ou repudiado. Instalada a relação opressor/oprimido, ela não encontrou outra alternativa a não ser se relacionar com homens ricos e poderosos, que pudessem lhe dar algumas vantagens, como alimentos, jóias, vestidos, perfumes, etc…

No século 20, apesar de o movimento feminista da década de 1960 ter feito com que grande parte das mulheres se rebelassem contra o eterno papel de donas de casa e mães, e as exigências práticas da vida não mais permitirem que elas se escondam sob a proteção do pai ou marido, para muitas a liberdade assusta.

Apesar de também existirem homens que procurem se relacionar com pessoas ricas, não correspondem à maioria. O ideal masculino, que desde cedo os homens aprendem a perseguir, exige deles força, sucesso, poder. E muitos se sentem diminuídos dependendo financeiramente de uma mulher.

As mulheres, ao contrário, foram ensinadas a acreditar que a mulher é frágil, com absoluta necessidade de proteção. As que se sentem capazes, com frequência temem desapontar as expectativas do homem.

Como a combinação de sexualidade e competência nas mulheres parece causar algum desconforto em muitos homens, elas optam por esconder a sua autonomia e representar o papel feminino estereotipado. Assim, aceitam ter a função de um espelho que reflete o ideal e a fantasia do homem, sempre ajustando sua imagem de acordo com as necessidades e exigências dele.

"Estamos diante de uma diferença fundamental entre o erotismo masculino e o feminino", afirma o sociólogo italiano Francesco Alberoni. Para ele, o erotismo masculino é ativado pela forma do corpo, pela beleza física, pelo fascínio, pela capacidade de sedução. Não pelo reconhecimento social, pelo poder.

Se um homem pendura na parede do seu quarto uma foto de Marilyn Monroe nua, é porque ela é uma belíssima mulher nua. E se ele tiver de escolher entre fazer sexo com uma atriz famosa, mas feia, ou com uma deliciosa garota desconhecida, não terá dúvidas em escolher a segunda. A sua escolha é feita na base de critérios eróticos pessoais.

Na mulher seria diferente: o erotismo profundamente influenciado pelo sucesso, pelo reconhecimento social, pelo aplauso, pela classificação no elenco da vida. O homem quer fazer sexo com uma mulher bonita e sensual.

A mulher quer fazer sexo com um artista famoso, com um líder, com quem é amado pelas outras mulheres, com quem é respeitado pela sociedade. Mas isso é fácil de entender, se lembrarmos que as mulheres, durante milênios, para se sentir protegidas, aprenderam a erotizar a relação com o poderoso.

Homens e mulheres são ensinados a ser diferentes, sobretudo no que diz respeito à sensibilidade, ao desejo e às fantasias. Na relação a dois, com frequência, um imagina o outro como na realidade ele não é, e espera dele coisas que ele não pode dar.

"O erotismo se apresenta, então, sob o signo do equívoco e da contradição", diz Alberoni. Entretanto, a igualdade entre os sexos tende a acabar com esta situação; ambos buscam, cada vez mais, o que os iguala e tentam superar as diferenças.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro