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Regina Navarro Lins

Amor entre elas

Regina Navarro Lins

21/02/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta que ouviu da esposa que ela está tendo um caso com uma mulher. Diz amá-la e não querer perdê-la.

O homem, como o internauta em questão, que se vê ameaçado de perder a parceira para outra mulher talvez alimente um sentimento dúbio. Por um lado, ser derrotado amorosamente por outro homem pode ser a opção pior, mas é preterido por alguém que sequer tem um pênis para oferecer causa perplexidade.

As pessoas reagem melhor à homossexualidade feminina e é comum homens declararem que sua fantasia erótica é assistir a duas mulheres fazendo sexo. Talvez por imaginarem que, não tendo o pênis, vão precisar dele e solicitar sua ajuda em algum momento.

Socialmente existe maior liberdade para o toque, os beijos e as manifestações de carinho de umas pelas outras. A relação amorosa entre elas é menos evidente e é mais fácil dissimular sua verdadeira orientação sexual.

As mais antigas referências e a própria definição das adeptas por essa forma de amar remetem a um lugar e uma figura histórica: a poeta Safo e a ilha de Lesbos, no século VII a.C. Ela escrevia poemas fortes para as mulheres que amou, que até hoje nos tocam, como nessa passagem: "O suor escorre por meu corpo, um tremor se apodera/De todos os meus membros, e, mais pálida do que a grama de outono/Tomada pela angústia da morte que ameaça, eu desmaio/ Perdida no transe do amor."

Safo encantou mulheres e o lugar onde viveu, a ilha de Lesbos, passou a designar a mulher homossexual, ou seja, lésbica. Mas é importante lembrar que as mulheres daqueles dias longínquos na Grécia e arredores viviam esquecidas por seus homens. Os maridos preferiam a companhia dos rapazes e das cortesãs enquanto as esposas cuidavam da casa e dos filhos.

Atualmente, observamos que a relação amorosa entre duas mulheres se torna cada vez mais comum. Aí vem a pergunta: Seríamos todos bissexuais dependendo apenas da permissividade da cultura em que vivemos?

O pesquisador americano Alfred Kinsey desenvolveu, em 1948, a famosa escala Kinsey para medir a homo, a hétero e a bissexualidade. Entrevistando doze mil homens e oito mil mulheres, elaborou uma classificação da sexualidade de zero a seis:

(0)Exclusivamente heterossexual.
(1)Predominantemente heterossexual, apenas incidentalmente homossexual.
(2)Predominantemente heterossexual, mais do que eventualmente homossexual.
(3)Igualmente heterossexual e homossexual.
(4)Predominantemente homossexual, mais do que eventualmente heterossexual.
(5)Predominantemente homossexual, apenas incidentalmente heterossexual
(6)Exclusivamente homossexual.

Em 1975, a famosa antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação à homossexualidade, mas realmente não deveremos conseguir retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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