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Regina Navarro Lins

Desafio dos desejos

Regina Navarro Lins

14/02/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta que vive super bem com a esposa, mas sabe que ela deseja muito transar com um grande amigo deles. Muitas vezes até transam fantasiando que o amigo está junto e é, segundo ele, sensacional. Sua vontade é incentivá-la para que isso aconteça na realidade, mas está na dúvida se é a melhor atitude a tomar.

O dilema que o internauta afirma viver quanto à sua fantasia de trazer um amigo comum para a intimidade do lar não é extraordinário e visita a imaginação de muitos casais. O sexo entre pessoas é alimentado pela cultura do entorno no casamento e remete a desafios que precisam ser enfrentados.

Quase todas as pessoas têm fantasias sexuais. Existem as que não sentem muito prazer, e até mesmo são incapazes de atingir o orgasmo, sem recorrer a elas. Com as fantasias a vida sexual ganha uma diversidade que seria impossível no cotidiano.

Por mais que exista grande atração entre um casal, a excitação não se dá sempre da mesma forma, tem altos e baixos. Lançar mão desse recurso funciona, muitas vezes, como estimulante para se recuperar a intensidade do desejo. E a variedade é grande: cenas, lugares, pessoas, podendo ser, em alguns casos, sobre um parceiro mais desejável do que aquele com quem se está fazendo sexo.

As fantasias que envolvem uma ou mais pessoas além do casal rompem com a segurança que mantemos em nossas mentes, agregam outros riscos, o que não quer dizer que devam ser descartadas.

Alguns psicanalistas costumam usar a expressão "intraconjugal" para denominar as fantasias que são criadas em comum pelo casal, tornando ambos responsáveis pelos desdobramentos positivos ou não de seus atos.

O internauta teme ferir a normalidade e a correção por conta dos sonhos eróticos de sua mulher. Acredito, entretanto, que as fantasias assim como os sonhos, pertencem justamente a uma área de repouso da experiência humana, livre de explicações racionais. E muito mais prejudicial do que elas acontecerem na realidade é alimentar o sentimento de culpa que elas podem provocar.

Num estudo da universidade americana de Colúmbia, o psicanalista G. Fogel afirma que virtualmente todos têm fantasias sexuais aberrantes, embora nem sempre conscientes do fato. Ele também admite que elas são tão frequentes nas mulheres como nos homens.

A questão é que como ninguém tem coragem de contar suas fantasias, todos se assustam, pensando que são os únicos a tê-las. Quando o casal assume esse desejo envolvendo uma terceira pessoa, houve já um rompimento com a fantasia interiorizada. A realização do encontro imaginado pelos dois transforma a fantasia em fato real e, com certeza, eleva o sonho a outros níveis de prazer.

Somos assediados constantemente pelo sonho e pelo desejo, não só por via de nossa imaginação como pelas mídias. Se observarmos, com distanciamento, verificamos que a publicidade se baseia em grande parte em sonhos eróticos.

Produtos fazem a intermediação entre objetos sexuais humanos e o consumidor. Mas a própria narrativa dos filmes publicitários é baseada no sonho. Só a força do onírico conduz o homem comum ao volante do automóvel veloz onde o aguarda a modelo sorridente. Os sonhos fazem parte do cotidiano das pessoas, sejam de forma sublimada ou não.

As opções que um casal tem pela frente são de exclusiva responsabilidade deles e daqueles que com eles as constituírem. Os prazeres ou as dificuldades resultantes também lhes pertencerão.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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