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Regina Navarro Lins

Insatisfação no casamento

Regina Navarro Lins

06/01/2015 10h48

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

As opiniões das pessoas que responderam à enquete da semana se dividiram. Pouco mais da metade acredita que não vale a pena se esforçar para salvar um casamento insatisfatório.

A satisfação no casamento depende das expectativas depositadas na vida a dois. Antigamente as opções de atividades fora do convívio familiar eram bastante limitadas, não só para as mulheres que cuidavam da casa e dos filhos, como para os homens que do trabalho iam direto para o aconchego do lar. Desconhecendo outras possibilidades de vida, não almejavam nada diferente, e o grau de insatisfação era muito menor. Havia um conformismo generalizado.

Entretanto, o movimento de emancipação feminina e a liberação sexual dos anos 60 trouxeram mudanças profundas na expectativa de permanência de uma relação conjugal. Surgiram muitas opções de lazer, de desenvolver interesses vários, de conhecer outras pessoas e outros lugares. Sem falar numa maior permissividade social para novas experimentações, nunca ousadas anteriormente.

Ao contrário da época em que, excetuando os casos de intenso sofrimento, ninguém se separava, hoje a duração dos casamentos é cada vez menor. Isso ocorre porque, quando uma pessoa se vê privada das perspectivas que são de alguma forma possíveis, a frustração é inegável.

Pude comprovar esse fato quando, após ter dado várias palestras para um público com idade entre 30 e 50 anos, onde as insatisfações no casamento eram evidentes e discutidas, entrei em contato com mulheres de mais de 75 anos.

Para minha surpresa, a maioria, inclusive muitas viúvas e poucas separadas, ao falar do casamento, declarou ter sido bastante satisfatório. Depois das explicações dadas, ficou mais fácil de entender. Para essas mulheres um bom casamento consiste em ter um marido respeitador e cumpridor de suas obrigações familiares.

E é por isso também que ideias como liberdade sexual, separação por falta de desejo sexual, questionamentos sobre a importância ou não da fidelidade conjugal, provocam reações de indignação. É perturbador perceber que existem maneiras mais prazerosas de viver, mas fora do alcance.

Hoje, os anseios são bem diferentes e as expectativas em relação ao casamento tornaram-se muito mais difíceis, até mesmo impossíveis de serem satisfeitas. As pessoas, ao contrário de outras épocas, escolhem seus parceiros por amor e esperam que esse amor e o desejo sexual que o acompanha sejam recíprocos e duradouros.

Sobre isso o psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa dizia: "Por que as pessoas continuam casando? Ah! Mas esta é a maior ilusão dos intelectuais em todos os tempos: as pessoas não são persuadidas por um bom argumento, mas sim por uma fantástica repetição de coisas. Desde que você nasce você ouve 30, 40, 50 vezes por dia: porque a mãe, porque a família, porque o casamento, porque os filhos. Cinquenta vezes por dia !!! Durante vinte anos!!! É uma hipnose coletiva, é bem por aí…"

Quando diminui a emoção na vida a dois ou o sexo deixa de proporcionar intenso prazer, decreta-se o fim do casamento. No caso do homem isso acontece, na maioria das vezes, se ele encontra um novo amor.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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