Casamento sem sexo
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta que gosta de ficar junto com o marido, mas há mais de dois anos não fazem sexo.
A ausência de sexo no casamento da internauta representa o que ocorre em grande parte dos casamentos. O sexo no casamento tem uma longa história. No início do Cristianismo, os pais da Igreja não viam nenhum aspecto positivo no vínculo conjugal, nem achavam que o afeto entre marido e mulher era algo desejável. Ter filhos era um dever do casal.
Da mesma forma que antes deveria ficar em segredo o ardor entre o casal, caso houvesse, agora se tenta ocultar a diminuição ou o término do desejo sexual entre marido e mulher. Essa questão só passou a ser problema — o maior enfrentado pelos casais — quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso.
Jornais, revistas e programas de tevê fazem matérias, tentando encontrar uma saída para a falta de desejo sexual no casamento. Como resolver a situação de casais que, após alguns anos de vida em comum, constatam decepcionados terem se tornado irmãos?
Alguns dizem que é necessário quebrar a rotina e ser criativo. As sugestões são variadas: ir a um motel, viajar no fim de semana, visitar uma sex-shop. Mas isso de nada adianta. O desejo sexual intenso é que leva à criatividade, e não o contrário. Quando não há desejo, a pessoa só quer mesmo dormir.
Quem se angustia com essa questão sabe que desejo sexual não se força, existe ou não. A falta dele no casamento nada tem a ver com falta de amor. Há homens e mulheres que amam seus parceiros, só não sentem mais desejo algum por eles.
Não é necessário dizer que existem exceções, e que em alguns casais o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão.
É comum o desejo sexual deixar de existir mesmo que os dois se gostem. A rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo.
A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, podem provocar a perda do desejo sexual, independente do crescimento do amor e de sentimentos como admiração, companheirismo e carinho.
É importante todos saberem que na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim de fato inerente a qualquer relação prolongada, quando a exclusividade sexual é exigida.
Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do desejo. O preço é a decepção de ver se dissipar a idealização do par amoroso.
Penso ser fundamental uma reflexão mais profunda a respeito do modelo de casamento vivido na nossa cultura. Na maioria das vezes a vida a dois se constitui de um conjunto de normas e regras que visam controlar a liberdade de cada um.
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