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Regina Navarro Lins

Insistência pelo sexo anal

Regina Navarro Lins

13/12/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que tem uma relação ótima com o marido, mas há um problema: ele insiste em fazer sexo anal e ela não suporta.

O sexo anal é talvez a mais execrada de todas as formas de sexo. Os gatos lambem, os cachorros cheiram, mas ma maior parte dos humanos trata o ânus como se fosse uma das partes mais malignas do corpo. Seu uso na relação sexual é um tabu em muitas culturas, inclusive na nossa.

No estado de Indiana, EUA, em 1965, houve o caso de um homem, que foi preso por fazer sexo anal com a esposa. Ela, depois de uma briga, assinou uma declaração acusando o marido de ter cometido "o detestável e abominável crime contra a natureza". Embora a mulher tenha mudado de ideia e tentado retirar a acusação, não tinha mais direito legal de fazê-lo. O marido foi condenado a quatorze anos de prisão. Teve direito a um novo julgamento, mas passou três anos preso antes que ele acontecesse.

Em 1990, 17 estados americanos ainda mantinham na ilegalidade o sexo anal consensual. Em 1988, na Georgia, Estados Unidos um homem foi condenado a cinco anos de prisão por ter confessado que fez sexo anal com a esposa, com o consentimento dela. Na França, antes da revolução, essa prática levava à morte na guilhotina e na Inglaterra, no século 17, era considerada como crime e a condenação podia ser prisão perpétua ou pena de morte.

Curiosamente, na Roma antiga, na noite de núpcias, o noivo se abstinha de tirar a virgindade da noiva em respeito a sua timidez e por isso praticava o sexo anal com ela. Em muitas épocas da história da humanidade o sexo anal foi considerado pecado. Entretanto, independente das proibições legais ou morais, as pessoas sempre o praticaram.

Três motivos levam as pessoas a praticarem o sexo anal: pelo prazer, como contraceptivo e para evitar que uma moça deixe de ser virgem. É sabido que as prostitutas da Antiguidade utilizavam o sexo anal como contraceptivo, quando ainda não havia preservativos.

Antes do movimento de liberação sexual, não eram poucas as moças que praticavam sexo anal com seus namorados para casarem virgens ou se manterem assim, caso o namoro terminasse.

Quanto ao prazer, não resta dúvida que o ânus possui sensibilidade erótica e é possível chegar ao orgasmo com sua estimulação. Entre muitos homossexuais masculinos o ânus é via natural de prazer. Entre os heterossexuais há grande número de adeptos.

Geralmente são os homens, na relação com a mulher, que mais desejam e solicitam o sexo anal; o aperto do ânus proporciona um prazer bastante intenso. Muitas mulheres, ao contrário, evitam ou até se recusam, alegando dor ou desconforto.

Os músculos do ânus são muito mais apertados do que os da vagina, e se a introdução do pênis for feita de forma brusca pode provocar dor e machucar. Mas isso não impede que muitas mulheres sintam grande prazer, principalmente se o clitóris é estimulado simultaneamente com um vibrador.

Em hipótese nenhuma deve haver penetração vaginal após a introdução do pênis no ânus. As bactérias naturais do reto podem causar infecções vaginais. E é muito arriscado praticar sexo anal sem usar preservativos. É a forma mais fácil de transmissão do vírus da AIDS, que é absorvido direto pela corrente sanguínea.

Do ponto de vista do bem estar emocional individual e da própria relação, o sexo anal só tem sentido se a mulher desejar realmente e jamais só para agradar o parceiro. Muitos homens insistem e a mulher, com medo de frustrá-lo e ser rejeitada por isso, se obriga. Nenhuma relação suporta tanto sacrifício.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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