Topo

Regina Navarro Lins

Amor levando ao fim

Regina Navarro Lins

14/10/2014 08h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A grande maioria das pessoas que responderam à enquete da semana já pensou em se matar por amor em algum momento da vida. O fim de um relacionamento é tão doloroso, que muitos estudiosos consideram o sofrimento comparável em intensidade à dor provocada pela morte de uma pessoa querida.

Quando alguém é abandonado se convence de que não foi o que deveria ter sido e não deu o que deveria ter dado ao outro. A pessoa se responsabiliza por ter falhado. Este é o momento em que se deseja morrer, de alguma doença ou de um acidente, porque não é suportável a ideia de que o abandono foi causado por uma insuficiência própria. Os suicídios se situam aí, ou seja, quando a relação é vivida como fracasso e surge a certeza da incapacidade de manter o outro interessado.

O sentimento de desvalorização é intenso. O filósofo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855) expressou bem essa ideia: "Desesperar-se por qualquer coisa não é ainda, pois, o verdadeiro desespero. É o princípio; é como quando o médico diz que a doença ainda não se manifestou. O estágio próximo é a manifestação evidente: desesperar-se de si mesmo."

O sentimento de culpa tortura a alma da mulher abandonada. Repete mil vezes para si mesma que não conseguiu manter o amor do homem, que não tem atrativos, que tudo é culpa dela. O ódio que ela sente do homem que a abandona e da mulher que o roubou transforma-se em ódio de si mesma. Assim como a poeta grega Safo, que abandonada pela amante, atirou-se ao mar do rochedo de Leucade, ela opta pelo suicídio.

Quando o homem avisa que vai lhe abandonar e diz: "Adeus… Não chore, por favor… Que é que eu posso fazer? Não te amo mais…Não chore. Não quero que você sofra… Adeus. Ele deixou de amá-la, e ela deixou de amar a si mesma. Sem perceber, ele já começou a matá-la em sua identidade de amante, de companheira, de mulher. A morte física é a continuação da morte psíquica provocada pelo abandono." , diz a escritora Carmen Posadas.

Quanto mais violento o ato suicida, mais evidente é o desejo de desforra. Carmen acrescenta que a mulher rejeitada desliga a máquina social das aparências que mantinha viva e escolhe a morte para jogar na cara de seu companheiro mal-agradecido o quanto o amou e o quanto sofreu por sua culpa. O desejo de desforra é o pano de fundo mais comum do ato suicida. Ferida, a vítima fraudada da paixão deseja que quem a abandonou nunca se esqueça do terrível mal que lhe causou.

"Embora seja uma solução escolhida preferencialmente pelas mulheres, também há homens que se suicidam por serem rejeitados. Está na memória literária de todos os espanhóis o final trágico de Larra, o romântico em ação, que se suicidou com um tiro de pistola em 1837, no auge de sua juventude, por ter sido rejeitado pela mulher amada. Os homens também se suicidam e também matam mulheres. Os motivos do suicídio e do crime passional são os mesmos. Até o último momento o amante pode vacilar entre o crime e o suicídio.", acrescenta a autora.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro