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Regina Navarro Lins

Civilização sem homofobia

Regina Navarro Lins

16/09/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita que a homofobia deve se tornar crime. Apesar de toda a liberação dos costumes, e do fato de em 1973, a Associação Médica Americana ter retirado a homossexualidade da categoria de doença ,os gays ainda são hostilizados e agredidos pela maior parte da sociedade, que associa masculinidade à heterossexualidade. Por que persiste ainda tanto preconceito contra a homossexualidade?

Para alguns isso estaria ligado à noção de que a homossexualidade está em ascensão e que, se não for refreada, poderá ameaçar a unidade familiar e a estrutura da sociedade como um todo. Outro motivo seria a convicção de que a maioria dos homossexuais não se controla sexualmente, é tarada e poderia seduzir crianças. Um temor mais sutil é que a aceitação cada vez maior da homossexualidade faça com que o papel do homem seja menos claramente definido, o que tornaria mais fácil aos garotos o caminho da homossexualidade.

Entretanto, é provável que a razão mais significativa da hostilidade dos homens heterossexuais seja o temor secreto dos próprios desejos homossexuais. Muitos heterossexuais reagem como se temessem ser contaminados em contato com gays. É comum o heterossexual sentir que tem de proteger sua masculinidade de uma contaminação imaginária, reagindo de forma agressiva ou até atacando o homossexual.

Um homem seguro de sua orientação heterossexual, sem necessidade, portanto, de perseguir o ideal masculino, integra os vários aspectos de sua personalidade, não sentindo a exigência desse tipo de reação. Caso seja assediado por um gay, deixa claro, de forma tranquila, que não tem interesse num encontro homossexual, sem que isso impeça o prosseguimento da relação de amizade, se for o caso.

Porém, o que mais se observa é o homem heterossexual afirmar que se isso acontecer com ele, não há dúvida: arrebenta, quebra ou mata o homossexual em questão. A homofobia serve também para o heterossexual deixar claro para os outros que ele não é homossexual. "A homossexualidade suscita em alguns homens (em particular nos rapazes) um temor que não tem equivalente entre as mulheres. Este temor se traduz por atitudes de afastamento, agressividade ou repulsa dissimulada", diz a historiadora francesa Elisabeth Badinter.

Um estudo para determinar os efeitos da percepção de um homossexual no espaço interpessoal, utilizou simplesmente a colocação de uma cadeira como critério de distância social. Constatou-se que, quando um pesquisador portava um distintivo onde se lia "gay and proud" e se apresentava como membro de uma associação de psicólogos gays, os participantes colocavam suas cadeiras ostensivamente mais longe deste pesquisador do que de outro, neutro, que não manifestava nenhuma característica homossexual. Os homens reagiam deixando três vezes mais espaço entre eles e o pesquisador do que as mulheres, quando submetidas a um estudo semelhante por uma pesquisadora com um distintivo de lésbica.

a nossa sociedade, os meninos aprendem desde cedo que não devem ter qualquer tipo de contato físico com homem. As amizades masculinas são raras, se restringindo geralmente a encontros em grupo ou competições esportivas. O abraço entre dois homens é pouco frequente e o afeto é manifestado no máximo com aperto de mão ou tapinha nas costas.

Muitos pais não abraçam nem beijam seus filhos depois de uma determinada idade. É muito provável que esta restrição vise preservar o conceito ideal da sociedade do que seja "másculo". A demonstração de afeto entre as mulheres é aceita por todo mundo e não parece despertar temores de que irá incentivar o lesbianismo.

A homofobia gera muito sofrimento. Será que já não passou da hora de todos perceberem que a homossexualidade é tão normal quanto a heterossexualidade? Mas enquanto essa mentalidade não predomina, acredito ser necessária a criminalização da homofobia para que cessem, de uma vez por todas, as agressões aos homossexuais.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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