O custo do amor romântico
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita que mesmo amando muito uma pessoa é possível se interessar por outra. Entretanto, muitos continuam idealizando o amor, e acreditam que ao encontrar a "pessoa certa" nunca mais terão olhos para ninguém.
"Preciso encontrar um grande amor!" Esta afirmação é ouvida com frequência na nossa cultura. Acredita-se só ser possível estar bem vivendo uma relação amorosa. A partir do século 20, mais do que em qualquer outra época, o amor ganhou importância. As pessoas passaram a acreditar que sem viver um grande amor a vida não tem sentido.
Pensa-se no amor como se ele nunca mudasse. O amor é uma construção social, e em cada época da História ele se apresenta de uma forma. O amor romântico, pelo qual a maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseiam, é calcado na idealização. Não é construído na relação com a pessoa real, que está do lado, e sim com a que se inventa de acordo com as próprias necessidades.
São várias as inverdades que o amor romântico impinge para manter a fantasia do par amoroso idealizado, em que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando. Entre elas estão as seguintes afirmações:
— Só é possível amar uma pessoa de cada vez;
— O amado terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro;
— Quem ama não sente desejo por mais ninguém;
— O amado é a única fonte de interesse do outro;
— Quem ama sente desejo sexual pela mesma pessoa a vida inteira;
— Qualquer atividade só tem graça se a pessoa amada estiver presente;
— Todos devem encontrar um dia a "pessoa certa".
Além disso, o amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico — uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos e reações. Inconscientemente, predetermina-se como deve ser o relacionamento com outra pessoa, o que se deve sentir e como reagir.
A idealização do amor tem um custo. Não é verdade que "tudo o que você precisa é de amor". Precisamos também ter um espaço individual, amigos verdadeiros, investir na carreira, etc… Ao nos concentrarmos no amor, negligenciamos inevitavelmente outras paixões, o que torna nossa vida mais limitada.
Acredito que quem ama de verdade pode se interessar por outra pessoa — afetiva e sexualmente. Acontece o tempo todo, mas a maioria das pessoas parece preferir fazer de conta que isso não existe.
Concordo com psicanalista W. Reich quando afirmou, na primeira metade do século 20, que "nunca se denunciará bastante a influência perniciosa dos preconceitos morais nessa área. E que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual, que é normal e nada tem a ver com a moral.
Se todos soubessem disso, as torturas psicológicas e os crimes passionais com certeza diminuiriam e desapareceriam também inúmeros fatores e causas das perturbações psíquicas que são apenas uma solução inadequada desses problemas."
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