Possessividade, ciúme e controle
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso do internauta casado com uma mulher que tem muito ciúme dele e o controla de todas as formas. Esse tipo de comportamento é bastante comum . A qualquer momento, inesperadamente, pode surgir o ciúme numa relação amorosa: na fase da conquista, no período da paixão, durante o namoro ou casamento e até mesmo depois de tudo terminado.
O psicólogo Gordon Clanton, da Universidade Estadual de San Diego, EUA, define o ciúme como "sentimento de desprazer que se expressa na forma de medo de perder o parceiro ou desconforto por uma experiência real ou imaginada que o parceiro tenha tido com uma terceira pessoa."
O ciúme envolve uma espécie de ansiedade de abandono que debilita a pessoa. Para superar os crescentes sentimentos de impotência, o ciumento se esforça por sufocar o outro e manter-se por perto. Mas como a incerteza é intolerável para o ciumento, ele procura detalhes e, às vezes, vai ao extremo de espionar o parceiro.
O ciumento controla o outro da mesma forma que a criança faz com a mãe, imaginando assim diminuir as chances de abandono. "O medo de que ninguém nos possa proteger e a suspeita de ser abandonado e rejeitado são os pesadelos da infância, mas também os fantasmas da maturidade.", diz o psicólogo italiano Willy Pasini.
Esse receio leva a se exigir do parceiro que não tenha interesse nem ache graça em nada fora da vida a dois, longe da pessoa amada. Quanto mais intenso o sentimento de inferioridade, maior será a insegurança e mais forte o ciúme. Nesse caso, restringir ao máximo a liberdade do outro é o mais comum.
Há pessoas que se sentem lisonjeadas com o ciúme do parceiro e alimentam essa atitude por confundi-la com prova de amor. É comum se acreditar que sem ciúme não existe amor. Essa é mais uma daquelas afirmações que as pessoas repetem, sem nem saber bem por quê.
Por ciúme se aceitam os mais variados tipos de violência, sempre justificados em nome do amor, claro. Entretanto, penso que qualquer atitude ciumenta é um desrespeito à liberdade do outro. Os que defendem a existência do ciúme fazem ressalvas apenas quanto ao exagero e agressividade. Mas, independente de ser discreto ou exagerado, o ciúme é sempre tirano e limitador. Não só para quem ele é dirigido, mas também para quem o sente.
O desrespeito que se observa numa cena de ciúme não se limita às agressões físicas ou verbais. Até uma cara emburrada durante um passeio, por exemplo, pode impedir que se viva com prazer. Não há nada mais sufocante do que a insegurança de alguém que aposta no controle do outro ao invés de lidar com suas próprias questões.
De qualquer forma, é fundamental que homens e mulheres, se quiserem viver de forma mais satisfatória, reflitam sobre como se vive o amor na nossa cultura, principalmente no que diz respeito à dependência amorosa e posse. O sociólogo inglês Anthony Giddens chama de "transformação da intimidade" um fenômeno sem precedentes em que milhares de homens e mulheres estão tentando, consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.
Penso que para uma relação valer a pena é primordial o respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolhas. Nenhum sentimento de posse ou manifestação de ciúme deve limitar a vida do parceiro (a). É preciso poder-se ter amigos e programas em separado e nenhum controle sobre a vida sexual do parceiro (a), mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa.
Poucos concordam com essas ideias, na medida em que é comum se alimentar a fantasia de que só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado.
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