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Regina Navarro Lins

Sexo oral ainda é tabu?

Regina Navarro Lins

04/01/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que se frustra porque o namorado nunca se dispõe a fazer sexo oral nela.

O sexo oral é alvo de dois tipos de preconceito: imoralidade e falta de higiene. Na nossa cultura judaico-cristã qualquer prática que não leve à procriação sempre foi condenada, e os genitais são, para muita gente, considerados uma parte suja do corpo, por sua proximidade com os órgãos de excreção. Claro que nada disso tem fundamento. É sabido que a grande maioria do sexo que se pratica não é para a procriação, e com a higiene comum os órgãos sexuais podem ficar tão limpos e cheirosos como qualquer outra parte do corpo. Além disso, em condições normais, o pênis e a vulva contêm muito menos germes do que a boca.

Muitas pessoas evitam essa prática sexual ou a utilizam, sentindo-se ansiosas e constrangidas, apenas para agradar o parceiro (a). Na conclusão do estudo sobre a opinião dos homens a respeito da cunilíngua, Shere Hite diz no seu relatório: "Será que as mulheres não são asseadas? Um dos temas mais frequentes sobre a vagina e a vulva está relacionado com o asseio da mulher, ou se ela se lavou recentemente. O fato de tantos homens sentirem desejo de enfatizar esse ponto parece refletir a influência das antigas opiniões patriarcais sobre a sexualidade feminina (e sobre as mulheres) como algo sujo, sórdido, ou não muito bonito".

Apesar de tantos tabus, de alguns acharem uma pouca vergonha, outros uma imundície, o sexo oral é a atividade que mais se pratica antes da penetração. Calcula-se que hoje, no Ocidente, cerca de 75% dos casais experimentam a estimulação oral-genital, e pelo menos 40% o usam com frequência.

E pesquisas indicam que esses casais têm mais chance de se ajustarem sexualmente. Não é para menos. A boca e os genitais são os órgãos mais sensíveis do corpo e bastante receptivos às sensações de prazer. Sem contar com o adicional que a criatividade erótica pode proporcionar. Os homens de uma ilha da Micronésia, por exemplo, colocam um pequeno peixe dentro da vagina da mulher, que é gradativamente lambida por eles nas preliminares.

Há homens que, sem coragem de sugerir às esposas o sexo oral, procuram, com as prostitutas, a satisfação desse prazer proibido em casa. As mulheres, além de todo o constrangimento por conta da repressão sexual, temem engasgar com o pênis na boca e, para decepção de seus parceiros, evitam engolir o esperma. Coisa que, indevidamente, é vista como falta de amor. Existem outras dificuldades na prática do sexo oral.

Os homens reclamam das mulheres que sugam o pênis com força ou roçam os dentes, causando desprazer. As mulheres dizem que os parceiros, não conhecendo bem a anatomia feminina, concentram a estimulação nos grandes lábios vaginais, onde há poucas terminações nervosas e por isso não proporcionam prazer. Ou então, o que é pior, friccionam o clitóris de forma rude, causando dor.

Como o sexo é um aprendizado, se houver vontade, é possível melhorar o desempenho. Contudo, o mais complicado de resolver, e que gera sérios desentendimentos, deixando a mulher ressentida, é a atitude do homem em relação ao sexo oral. Não são poucos os homens que desejam que a mulher sugue seu pênis, mas evitam sempre que podem fazer o mesmo na vagina da parceira.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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