O alto custo da solidão a dois
Comentando o "Se eu fosse você"
"O casamento é um oásis de horror em um deserto de monotonia." , disse o poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). Não há dúvida de que existem casamentos ótimos, mas nem sempre a vida a dois é fácil de suportar. A questão da semana é exatamente sobre isso: o caso da mulher que se sente profundamente sozinha no casamento.
Ao ler seu relato, logo nos vem a pergunta: por que ela não se separa do marido? Sem dúvida seria uma saída, mas as coisas não são tão simples assim. As pessoas têm medo de se separar. Medo de ficar só, de sentir falta do outro, de não encontrar um novo amor, do desamparo, de não conseguir se sustentar, de se sentir jogadas fora. Acredita-se tanto que só é possível ser feliz tendo alguém do lado que se paga qualquer preço por isso. Por medo da solidão as pessoas suportam o insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo, e não raro se tornam dois estranhos ocupando o mesmo espaço físico.
É comum duas pessoas imaginarem que no casamento alcançarão uma complementação total, que se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro. Em pouco tempo essas expectativas se mostram incompatíveis com a realidade, e as frustrações vão se acumulando.
O medo da solidão é responsável por muitas opções equivocadas de vida. Como mecanismo de defesa, surge a tendência a não se pensar no que está acontecendo. Tenta-se acreditar que casamento é assim mesmo. Aí é que reside o perigo. Se a pessoa não tomar coragem e sair fora, vai viver exatamente o mesmo que um sapo desatento. Uma fábula conta que se um sapo estiver em uma panela de água fria e a temperatura da água se elevar lenta e suavemente, ele nunca saltará.
Para o historiador inglês Theodore Zeldin, o medo da solidão assemelha-se a uma bola e uma corrente que, atados a um pé, restringem a ambição, são um obstáculo à vida plena, tal e qual a perseguição, a discriminação e a pobreza. Se a corrente não for quebrada, para muitos a liberdade continuará um pesadelo.
O psicoterapeuta e escritor Roberto Freire não tem dúvida de que risco é sinônimo de liberdade e que o máximo de segurança é a escravidão. Ele acredita que a saída é vivermos o presente através das coisas que nos dão prazer. A questão, diz ele, é que temos medo, os riscos são grandes e nossa incompetência para a aventura nos paralisa. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção.
A condição essencial para ficar bem sozinho é adquirir nova visão do amor e do sexo e se libertar da dependência amorosa exclusiva e "salvadora" de alguém. O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos vínculos afetivos. E quando se perde o medo se percebe que estar sozinho não significa necessariamente solidão.
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