Poliamor? Swing? Predomínio de novas formas de amor é só questão de tempo
Universa
23/04/2020 04h00
Atendo em consultório há 46 anos pacientes em terapia individual e de casal. De aproximadamente cinco anos para cá, passei a receber casais trazendo novos conflitos, que ocorrem porque uma das partes propõe a abertura da relação – partir para uma relação não monogâmica — relações livres, poliamor, amor a três — ou então uma nova prática sexual como sexo a três, swing…
Em geral, a outra parte se desespera com essa possibilidade, se sente desrespeitada, não amada. Muitos vivem grandes conflitos nesse período de transição entre antigos e novos valores.
Veja também:
- "Nunca tive orgasmo e tenho me sentido menos mulher por isso"
- "Ele quis dividir a conta do motel comigo! Me senti desrespeitada"
- A mulher se frustra quando o homem broxa?
- 8 coisas que você precisa saber antes de encarar um ménage
A mudança na forma de pensar e viver as relações amorosas começou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com a destruição de Hiroshima e Nagasaki, a ameaça da bomba atômica paira na cabeça dos jovens. Com o sentimento de insatisfação que isso provoca, eles começam a questionar os valores de seus pais.
Muitos deles, principalmente nos Estados Unidos, se recusam a dar continuidade a um estilo de vida que consideram medíocre e superficial. Um sentimento de angústia e aversão a um mundo suicida paira na cabeça deles e uma profunda mudança começa a acontecer.
Mas a Revolução Sexual não poderia acontecer sem que um novo produto chegasse ao mercado: a pílula anticoncepcional, que dissociou sexo da procriação e o aliou ao prazer. As mulheres se libertaram da angústia da maternidade indesejada.
Os movimentos de contracultura — Feminista, Hippie, Gay — se erguem em todo o mundo. A marcha da liberdade envolve a Europa e em maio de 1968 explode em Paris.
Essa geração foi a primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita pelas gerações anteriores. A descoberta da possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva mais rica, mais diversificada, foi a grande revelação.
Como em toda transição, observamos comportamentos díspares — alguns muito libertários e outros ainda conservadores. Não são poucos os que temem viver de forma diferente da que estão acostumados. Afinal, o novo assusta e o desconhecido gera insegurança. Mas acredito que o predomínio das novas formas de amar seja apenas uma questão de tempo.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.