“Casamento me traz mais tristezas que alegrias, mas tenho pavor da solidão”
Universa
23/03/2020 04h00
"Quando me casei eu tinha tantos sonhos! Agora, vejo que a vida a dois me traz mais dissabores do que alegrias. Não consigo me separar.Tenho um bom emprego, que daria para viver sozinha, mas não consigo imaginar essa hipótese. Estamos juntos há 18 anos, e sei que minha vida seria muito difícil sem a presença do meu marido. Tenho pavor da solidão!"
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A internauta não está sozinha; é comum ouvirmos queixas a respeito do casamento. Por que isso acontece? Talvez o primeiro passo seja perceber que os modelos tradicionais de relacionamento são insatisfatórios e causam sofrimento. Poucos têm coragem de tentar novos caminhos. O desconhecido assusta, dá medo, e por isso, apesar das frustrações, quase todos recorrem ao que já conhecem.
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Na maioria das vezes, as relações estáveis — e aí tanto faz ser namorado ou casado, morar junto ou não — se tornam tediosas. São tantas regras a seguir, tantas concessões a fazer… O sexo também é um grave problema para a maioria. Além de todas as cobranças do dia a dia, a excessiva intimidade anula a emoção que havia antes, tornando-o meio burocrático. Mas apesar de tudo os dois continuam juntos, se agarrando um ao outro e à relação, como náufragos aguardando um milagre acontecer.
Neste momento, observamos que diminui a disposição para sacrifícios só para ter alguém ao lado. Para haver chance de se viver a dois sem tantas limitações, homens e mulheres precisam efetuar grandes mudanças na maneira de pensar e de ser. Acredito que para uma relação a dois valer a pena, alguns fatores são primordiais:
- Total respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolhas.
- Nenhuma possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro.
- Poder ter amigos e programas em separado.
- Nenhum controle da vida do parceiro, mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa.
Poucos concordam com essas ideias, na medida em que é comum se alimentar a fantasia de que só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado. Chegamos, então, a um ponto crucial: para haver uma relação amorosa gostosa entre duas pessoas, elas têm que estar juntas somente pelo prazer da companhia, e não reproduzindo a mesma dependência emocional que tinham com a mãe quando eram crianças. Como conseguir isso? O primeiro passo é desenvolver a capacidade de viver bem sozinho. É descobrir o prazer da própria companhia.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.