"Meu vizinho tentava me seduzir o tempo todo. Quando quis, ele fugiu"
Universa
25/05/2020 04h00
"Um vizinho, que se mudou há pouco tempo para o meu prédio, tentava sempre me seduzir. Com frequência me convidava para ir ao seu apartamento e fazia promessas sobre os prazeres que iria me proporcionar. Nunca levei a sério suas propostas, mas a insistência fez com que eu decidisse transar com ele. Numa manhã, ao encontrá-lo, comuniquei que gostaria de ir à sua casa, naquela noite, experimentar tudo o que ele me prometera. Ele ficou sem jeito e deu uma desculpa. Daí em diante, passou a ter um comportamento diferente, evitando me encontrar. Disse que estava sem tempo e acabamos nos tornando estranhos."
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O papel que homem e mulher desempenhavam no sexo, até algumas décadas atrás, teve regras claramente estabelecidas. Fazia parte do jogo de sedução e conquista o homem insistir na proposta sexual e a mulher recusar. Contudo, ele apostava no seu sucesso e, para isso, não media esforços. Quanto mais ela recusava mais ele insistia e mais emocionante o jogo se tornava. Só para ele, claro.
Para a mulher era um tormento. Além de toda a culpa que carregava por estar permitindo intimidade a um homem, seu desejo era desconsiderado, assim como seu prazer. Como usufruir daquele encontro? Não podia relaxar um segundo. Ela sabia que, se não se controlasse, seria logo descartada e ainda por cima rotulada de "fácil".
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Mas o homem continuava insistindo, e ela dizendo não. Ele nem a percebia, o importante era chegar ao final. Aprisionados à moral antissexual, nenhum dos dois tinha a menor chance de experimentar o prazer proporcionado pela troca de sensações eróticas. Se em algum momento a mulher cedesse, pronto. O homem se apaziguava com a confirmação da única coisa que buscava desde o início: se sentir competente e se afirmar como macho.
Agora as coisas mudaram. As mulheres dão sinais de não estarem dispostas a continuar se prestando a esse papel. Não querem apenas esperar passivamente que os homens se sintam atraídos e tomem a iniciativa. O machão está em baixa, e a mulher busca homens que se relacionem com ela em nível de igualdade em tudo, também no sexo.
Para alguns homens, a situação é complicada. Além de ser difícil aceitar a igualdade com a mulher, o temor de ser avaliado e comparado a outros homens gera insegurança. Sem contar que outras preocupações, nunca antes sentidas, estão agora presentes o tempo todo: ter o pênis pequeno ou fino, ter ejaculação precoce, não obter ereção no momento desejado, não proporcionar orgasmo à mulher. Mas a questão é que os homens que continuam procurando mulheres recatadas, acreditando estar assim mais garantidos, em pouco tempo se sentem insatisfeitos.
Acredito que esses conflitos só vão ser resolvidos quando o sexo for aceito como algo bom, natural, que faz parte da vida. E não se precisar mais atribuir a ele motivos que não lhe são próprios.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.