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Quatro comentários para quem acha que feminismo é perversão

Universa

19/10/2019 04h00

O seminário Mulheres do Reino de Deus, em uma igreja evangélica neopentecostal, no bairro do Belém, em São Paulo, teve o objetivo de combater "o avanço das trevas para destruir a imagem feminina." Da matéria selecionei quatro pontos para reflexão.

— "Feminista está do lado do inferno." O feminismo é considerado uma luta contra homens e contra Deus.

A história da mulher é a constante luta contra a opressão. Desde que o sistema patriarcal se instalou, há 5.000 anos, as mulheres sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas, escravizadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.

Os progressivos direitos adquiridos são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é marco do início da participação efetiva das mulheres na sociedade. Chegamos ao século 21 e a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres ainda é longa. Quando alguém diz que não é feminista, só imagino duas hipóteses: desconhece totalmente a História ou não se importa que as mulheres continuem sendo oprimidas.

— Durante a oração um dos pedidos é que Deus ajude as mulheres presentes a renunciar ao sexo oral e ao anal, por serem consideradas práticas pervertidas.

O sexo oral é alvo de dois tipos de preconceito: imoralidade e falta de higiene. Na nossa cultura judaico-cristã qualquer prática que não leve à procriação sempre foi condenada, e os genitais são, para muita gente, considerados uma parte suja do corpo, por sua proximidade com os órgãos de excreção. Claro que nada disso tem fundamento. É sabido que a grande maioria do sexo que se pratica não é para a procriação, e com a higiene comum os órgãos sexuais podem ficar tão limpos e cheirosos como qualquer outra parte do corpo. Além disso, em condições normais, o pênis e a vulva contêm muito menos germes do que a boca.

Em muitas épocas da história da humanidade o sexo anal foi considerado pecado ou crime. O intercurso anal é uma prática comum. Para que possa ser desfrutada é fundamental que as pessoas envolvidas não tenham preconceitos e não encarem o sexo anal como algo sujo e feio. Independente da penetração, a estimulação anal é muito excitante para homens e mulheres que muitas vezes se estimulam nessa área durante o ato sexual. O sexo anal, assim como tantas outras práticas sexuais, só se justifica se for prazeroso para ambos os parceiros e não por obrigação ou para agradar o outro. E é fundamental que se use camisinha.

— "Ideologia de gênero é para destruir a família, precisamos orar contra isso."

No seminário é dito também que ideologia de gênero é o discurso de que crianças não nascem com pênis nem com vagina. Não sei de onde tiraram isso. Na realidade, ideologia de gênero é a distinção clara entre masculino e feminino, como por exemplo as afirmações de que menino veste azul, menina veste rosa e a de que homem não chora.

— "A mulher deve se submeter ao marido."

Ao contrário dos conservadores, não acredito que essa afirmação absurda contra as mulheres signifique um retorno aos antigos valores. Mesmo porque tanto homens como mulheres possuem o mesmo potencial para os diversos comportamentos. A supremacia masculina, que perdurou tanto tempo, envenena todas as relações humanas, prejudicando também os homens. O caminho para a igualdade de direitos entre homens e mulheres ainda é longo, mas as mudanças são irreversíveis.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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