Orgasmo feminino foi aceito há pouco tempo e isso ainda prejudica a mulher
Regina Navarro Lins
21/02/2019 04h00
Ilustração: Caio Borges
O orgasmo, do grego orgasmós, de orgân, ferver de ardor, é definido como o mais alto grau de excitação sexual e portanto o prazer físico mais intenso que um ser humano pode experimentar. Durante longos séculos a mulher foi privada desse prazer, já que o orgasmo feminino não está vinculado à procriação.
Até meados do século 19, quando o amor ainda não fazia parte do casamento, havia uma regra para a vida do casal. Era o dever conjugal a ser cumprido, principalmente na cama. Caso um dos dois cônjuges recusasse o ato sexual, recorria-se ao confessor que censurava e podia negar a absolvição e a comunhão.
Na era vitoriana, há 150 anos, o prazer sexual das mulheres era inaceitável. A falta de desejo sexual era um importante aspecto da feminilidade. O ponto de vista oficial da época foi bem expresso por Lord Acton, famoso médico inglês, que escreveu: "Felizmente para a sociedade, a ideia de que a mulher possui sentimentos sexuais pode ser afastada como uma calúnia vil."
Num compêndio para esposas e mães zelosas, escrito em 1840, o conceito vitoriano da função da mulher é estabelecido com clareza: "A função peculiar da mulher é zelar com paciente assiduidade em torno da cama dos doentes; vigiar os frágeis passos da infância; informar aos jovens os elementos do conhecimento e abençoar com sorrisos os amigos que se estão consumindo no vale de lágrimas."
O neuropsiquiatra alemão Krafft-Ebing, estudioso da patologia sexual, encarava a sexualidade como uma espécie de doença repugnante. Sobre as mulheres ele era categórico: "Se ela for normalmente desenvolvida e mentalmente bem criada, seu desejo sexual será pequeno. Se assim não fora, o mundo todo se transformaria num prostíbulo e o casamento e a família, impossíveis. Não há dúvida de que o homem que evita as mulheres e a mulher que busca os homens são anormais."
Em meados do século 20, o orgasmo feminino passou a ser admitido mas com muita cautela. A mulher que gozava sem amor era tida como ninfomaníaca, ao passo que o homem casado que frequentava os bordéis era considerado normal. Apesar de a pílula e da revolução sexual dos anos 1960/70 terem permitido que a mulher se tornasse mais livre no sexo, com tanto tempo de repressão não é difícil entender porque 2/3 delas não conseguem atingir o orgasmo.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.