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Separação e superação

Regina Navarro Lins

18/06/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que que descobriu que o marido está apaixonado por outra há dois anos, quando às 7h da manhã foi ao banheiro e viu que ele esqueceu o celular. Viu então a mensagem dele para uma mulher 30 anos mais jovem, aluna dela. Ela o pôs pra fora de casa, mas ele insiste em voltar. Ela pergunta: "Como voltar a dormir ao lado de um homem que levanta as 7h da manha da minha cama e manda mensagens de amor para outra?"

"Evitar a dor é impossível, evitar esse amor é muito mais. Você arruinou a minha vida me deixe em paz."

"Meu mundo caiu e me fez ficar assim."

"Você está vendo só do jeito que eu fiquei e que tudo ficou."

"Risque meu nome do seu caderno, pois não suporto o inferno do nosso amor fracassado."

"Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor."

A poesia da musica popular, como nos exemplos acima, trata da dor de amor como drama doloroso, agravado principalmente pela expectativa romântica de "até que a morte nos separe".

Fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de nos sentirmos uma pessoa importante, aumentando nossa autoestima.

Deixar de ser amado é fonte de profunda angustia e tristeza. Ainda mais quando a causa do rompimento é a paixão por outra pessoa. Quando o parceiro prefere outro alguém para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado.

O adulto quando perde o objeto de seu amor age como uma criança pequena abandonada pela mãe, se sente perdido, sem rumo… Há inúmeras questões para afligi-lo, mas a maior de todas é o medo de não voltar a ser amado.

Embora o casamento não seja o único meio de atenuar o desamparo humano — outras relações cumprem essa função: amizades profundas, participação em grupos que têm ideais em comum, projetos pessoais interessantes, etc… —, é a que a sociedade mais privilegia.

Na contramão dessa análise, o psicólogo italiano Edoardo Giusti, após quatro anos de pesquisas e estudos acerca da separação de casais, afirma que é certamente uma novidade para nossa cultura, centrada no sacrifício e na abnegação, poder evidenciar o alívio muitas vezes sentido ao término de uma união. E até se identifica um certo entusiasmo quando uma separação é vivida como nova oportunidade de crescimento e de desenvolvimento pessoal.

Um resumo de alguns dados dessa pesquisa é interessante. Por exemplo, ela conclui que pessoas que tiveram uma educação conservadora, uma vida em comum caseira, com poucas saídas e amigos, uma personalidade rígida e introvertida, sofrem mais na separação do que aqueles que possuem autonomia, uma vida social fora do lar e uma educação mais liberal. A pesquisa também concluiu que filhos e dependência econômica agravam a dor da separação.

Como vivemos numa época em que cada um busca desenvolver ao máximo suas possibilidades pessoais e sua individualidade, a dor da separação é, portanto, bem menor do que há 40 anos.

Concordo com a psicóloga Purificacion Garcia Gomes quando diz: "Nesse sentido, vê-se nas pessoas que se separam nas últimas décadas, a consciência da necessidade de reconstruir sua identidade, de restabelecer novos propósitos de vida. Não cabe mais chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objeto a ser realizado e vivido."

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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