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"Viva o poder gay": como se deu a revolta de Stonewall, marco na luta LGBT

Universa

27/06/2020 04h00

Bandeiras do orgulho LGBTQ+ em frente ao lendário bar The Stonewall, em Nova York (foto: iStock)

O Stonewall Inn, um bar em Nova York, precursor do movimento por direitos LGBTQ+ nos EUA, corre o risco de fechar por não ter como sobreviver sem funcionar durante a pandemia da Covid-19. O Stonewall é de grande importância histórica. Em 28 de Junho de 1969, um único momento definiu a causa gay.

Local de encontro de gays, lésbicas e travestis foi invadido pela polícia. Os bares gays dos EUA sofriam inspeções rotineiras. Os policiais prendiam os travestis mais provocantes e todos os que vestiam mais de três peças do sexo oposto. Não havia nada de especial na batida do Stonewall, a não ser que, pela primeira vez, os gays reagiram.

"Eles arrastavam uma lésbica de porte masculino. Há um parque do lado oposto com muitos meninos de rua gays, e eles começaram a vaiar a polícia. A lésbica se debatia e se desembaraçou das algemas. Se jogou contra a porta e de repente saiu do carro e começou a chutá-lo, debaixo de aplausos. E subitamente o que era uma comédia passou a ser uma arruaça, foi um momento inesquecível", narrou depois um dos frequentadores.

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A polícia se retirou da boate. Os parquímetros do estacionamento foram arrancados e jogados na calçada. Bob Koiler, cliente do Stonewall recorda:

"Os rapazes começaram a zombar dos guardas chamando-os com nomes de travestis. Eu não vi nada que pudesse causar um tumulto, mas de repente irrompeu uma cólera e os guardas se retiraram de Stonewall. Alguém tentou forçar a porta com um parquímetro. Vidros foram quebrados. O fogo começou em algumas lixeiras. Havia uma boa dose de humor. Os guardas introduziram uma mangueira de incêndio por uma abertura para molhar todo mundo, mas apenas um filete d'água apareceu, foi humilhante. E novamente houve muitas risadas".

Na noite seguinte os guardas chegaram com aparato antichoque. Os gays fizeram fila, cantando e dançando: "Nós somos meninas de Stonewall/ temos o cabelo cacheado/ não usamos roupa de baixo/ e mostramos nossos pelos púbicos". Os guardas avançaram para desmobilizar o grupo, mas quando viravam a esquina um novo grupo estava a postos. Um guarda porto-riquenho, bonitão, escorregou e caiu.

Stonewall inspirou a criação da Frente de Libertação Gay, copiando o modelo norte vietnamita usado na guerra. Vinte e quatro horas mais tarde as janelas de Stonewall estavam cobertas por slogans políticos: "Viva o poder gay." Os primeiros panfletos aparecem: "Os homossexuais estão se revoltando? Pode apostar seu belo traseiro nisso".

Seis meses depois, a FLG (Frente de Libertação Gay) havia discursado em 175 campus universitários. A ideia da discrição homossexual começava a ruir. Um ano mais tarde, na primeira semana do Gay Pride, a primeira marcha se organiza: 15 mil gays vão de Greenwich Village até o Central Park. Logo, marchas semelhantes acontecem em São Francisco, Los Angeles e Chicago.

"Homossexual é uma classificação. Gay é um estilo de vida", era a palavra de ordem dos americanos. Venceram. A primeira marcha do Gay Pride inglesa aconteceu em 1972, mas antes disso os gays já eram visíveis e ouvidos. Dez anos mais tarde a cultura gay estava implantada. As paradas gays comemorando Stonewall foram organizadas em todo o mundo. "Stonewall foi como a queda de um grampo que é ouvida no mundo inteiro e a mensagem chegou claramente na Inglaterra", recorda Kenneth, militante inglês.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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