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A homofobia do prefeito perdeu para a luta por liberdade

Universa

07/09/2019 12h35

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), tentou recolher das prateleiras da Bienal Internacional do Livro do Rio a HQ "Vingadores – A Cruzada das Crianças" sob a alegação de que a obra da coleção Graphic Novels da Marvel, onde dois super-heróis namorados se beijam, traz "conteúdo sexual para menores." O recolhimento não chegou a acontecer, porque todos os exemplares na Bienal já tinham sido vendidos.

A atitude de Crivella foi duramente criticada pela relatoria especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por editores, autores, pela OAB, e por grande parte da população, que considerou censura.

Em um comunicado, o órgão ligado à OEA (Organização dos Estados Americanos) indicou que a "proteção das crianças não pode ser utilizada como pretexto para impedir que crianças e adolescentes tenham acesso a obras em qualquer formato que representam a diversidade de orientação sexual e identidade de gênero que faz parte das pessoas".

Será que é verdade que toda a censura que observamos no Brasil hoje está nos afastando dos países mais adiantados do Ocidente e nos associando à mentalidade repressora de países como a Arábia Saudita? Será que, como diz o blogueiro Josias de Souza, do Uol, o prefeito do Rio Marcelo Crivella, ex bispo da Igreja Universal, está mesmo confundindo a prefeitura com púlpito? É grave. Afinal, pessoas do mesmo sexo podem se casar e homofobia é crime.

Apesar de, hoje, a homossexualidade não ser mais considerada crime, pecado ou doença, a discriminação continua, sendo os gays hostilizados e agredidos. A homofobia deriva de um tipo de pensamento que equipara diferença a inferioridade. E quem são os homofóbicos?

Alguns estudos indicam que são pessoas conservadoras, rígidas, favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. E não podemos nos esquecer da pesquisa realizada pela Universidade de Ontário, Canadá, e publicada na revista Psychological Science. Ela revelou que pessoas menos inteligentes são mais conservadoras, preconceituosas e racistas.

Concordo com o sociólogo inglês Anthony Giddens quando diz que hoje, a 'sexualidade' tem sido descoberta, revelada e propícia ao desenvolvimento de estilos de vida bastante variados. É algo que cada um de nós "tem", ou cultiva, não mais uma condição natural que um indivíduo aceita como um estado de coisas preestabelecido.

O reconhecimento de diversas tendências sexuais corresponde à aceitação de uma pluralidade de formas de viver, o que vem a ser uma atitude política. O valor radical do pluralismo não deriva de seus efeitos de choque — pouca coisa atualmente nos choca —, mas do efeito de se reconhecer que a "sexualidade normal" é simplesmente um tipo de estilo de vida, entre outros.

A mentalidade sexual predominante nos últimos 50 anos é resultado de uma longa trajetória cultural. Atualmente, nos parece óbvio que os direitos sexuais dos indivíduos são mais importantes do que qualquer noção de moral. Há os que sofrem por se sentir impotentes para fazer escolhas livres, mas o fim de muitos tabus é só uma questão de tempo.

Diante da repercussão negativa que a atitude do prefeito está tendo, devemos nos sentir gratos pelos milhares de homens e mulheres que lutaram e sofreram por nosso direito à liberdade.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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