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A cada 16 horas há uma morte por homofobia no país; de onde vem esse ódio?

Regina Navarro Lins

22/02/2019 04h00

Foto: Getty Images

Uma pesquisa somou as denúncias de assassinato da população LGBT registradas entre 2011 e 2018 pelo Disque 100 (um canal criado para receber informações sobre violações aos direitos humanos), pelo Transgender Europe e pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), totalizando 4.422 mortos no período. Isso equivale a 552 mortes por ano ou uma vítima de homofobia a cada 16 horas no país.

Num estudo, realizado há três anos, com profissionais LGBT, entre 18 e 50 anos, de 14 estados brasileiros, 40% dos entrevistados disseram que já sofreram discriminação direta. E todos relataram ter sofrido discriminação velada no trabalho. Por medo de serem discriminados, demitidos ou terem sua capacidade profissional colocada em xeque, muitos profissionais preferem manter em segredo sua orientação sexual.

Enquanto na Grécia Clássica, há 2500 anos, a homossexualidade era tão valorizada a ponto de ter sido criado o Batalhão Sagrado de Tebas – quadro de tropas de choque composto inteiramente de casais homossexuais –, nos 2 mil últimos anos ela foi considerada pecado, crime e, a partir do século 19, doença.

Apesar de, hoje, a homossexualidade não ser mais considerada doença — em 1973, a Associação Médica Americana a retirou dessa categoria —, a discriminação continua, sendo os gays hostilizados e agredidos. A homofobia deriva de um tipo de pensamento que equipara diferença a inferioridade.

Alguns estudos indicam que os homofóbicos são pessoas conservadoras, rígidas, favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. Quando se considera, por exemplo, que um homem homossexual não é homem, fica clara a tentativa de preservação dos estereótipos masculinos e femininos, típicos das sociedades de dominação que temem a igualdade entre os sexos.

A homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si. Dirigir a própria agressividade contra os homossexuais é um modo de exteriorizar o conflito e torná-lo suportável.

E pode ter também uma função social: um heterossexual exprime seus preconceitos contra os gays para ganhar a aprovação dos outros e assim aumentar a confiança em si mesmo.

Há ainda outro motivo possível. Estudo feito por pesquisadores da Universidade Brock, de Ontario, no Canadá, concluiu que adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas são mais conservadores e preconceituosos (racismo, homofobia, machismo etc). O estudo foi publicado pela revista Psychological Science.

Por mais que se denuncie o absurdo que o ódio e a frequente agressão aos gays representam, a homofobia não deixará de existir num passe de mágica. Seu fim depende da queda dos valores patriarcais que, já em curso, vem trazendo nova reflexão sobre o amor e a sexualidade.

Caminhamos para uma sociedade de parceria, e se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser percebida como expressão normal da sexualidade, apenas diferente da maior.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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