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"Tenho um marido maravilhoso, mas pedi a separação pois me apaixonei"

Regina Navarro Lins

17/09/2018 04h00

Ilustração: Caio Borges

"Sou casada há oito anos, tenho dois filhos pequenos que só me dão prazer e um marido maravilhoso. Somos considerados exemplos de casal e família perante nossos amigos. Porém conheci um novo colega de trabalho e me apaixonei por ele. Temos nos encontrado e vivido uma relação amorosa muito intensa. Conversei com meu marido e propus a separação. Ele está sofrendo, mas não tenho como fingir que nada está acontecendo. Não gostaria de perder o contato com ele. Quero que ele seja sempre meu melhor amigo, e ele pode contar comigo para qualquer coisa."

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Demorei para descobrir por que meu avô considerava "pouca vergonha" pessoas separadas conversarem ou até se cumprimentarem. Quem viveu na primeira metade do século 20 não podia mesmo entender. Na maioria dos países ocidentais, o casamento constituía um contrato duradouro e não era permitido o rompimento, a não ser em casos de faltas gravíssimas cometidas por um dos cônjuges. Entre elas estavam o abandono do lar, adultério, alcoolismo e violência física. "Depois de tanto ultraje, como podem ficar amigos?", ele devia se perguntar.

Naquela época não havia separações amigáveis. Embora, como acontece hoje, as mulheres fossem responsáveis pela maioria dos pedidos de divórcio, a situação delas era bem difícil. Apesar de só se separar quando o casamento se tornava insuportável, elas eram discriminadas e representavam uma vergonha para a família.

Sem dúvida, a felicidade no casamento depende das expectativas que se depositam na vida a dois. Antigamente as opções de atividades fora do convívio familiar eram bastante limitadas, não só para as mulheres que cuidavam da casa e dos filhos, como para os homens que do trabalho iam direto para o aconchego do lar. Desconhecendo outras possibilidades de vida, não almejavam nada diferente, e o grau de insatisfação era muito menor. Havia um conformismo generalizado.

Entretanto, o movimento de emancipação feminina e a liberação sexual dos anos 1960 trouxeram mudanças profundas na expectativa de permanência de uma relação conjugal. Surgiram muitas opções de lazer, de desenvolver interesses vários, de conhecer outras pessoas e outros lugares. Sem falar numa maior permissividade social para novas experimentações, nunca ousadas anteriormente. Ao contrário da época em que, excetuando os casos de intenso sofrimento, ninguém se separava, hoje a duração dos casamentos é cada vez menor. Isso ocorre porque, quando uma pessoa se vê privada das perspectivas que são de alguma forma possíveis, a frustração é inegável.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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