O egoísmo no sexo reduz à metade a possibilidade do prazer
Regina Navarro Lins
06/09/2018 04h00
Ilustração: Caio Borges
O manual francês do casamento do Dr. Auguste Debay, do século 19, informa que "fingir o orgasmo é uma maneira da esposa se sacrificar pela família". Não sei se as mulheres desse período fingiam com a eficiência que certa vez a atriz americana Candice Bergen descreveu: "Respiração funda, girar a cabeça nas duas direções, simular um ataque de asma e morrer um pouco."
As grandes transformações na moral sexual fizeram com que homens e mulheres não acreditassem mais que o ato sexual seja pecado. Mas os antigos tabus ainda persistem de forma inconsciente, fazendo com que o sexo continue sendo um problema complicado e difícil, com muitas dúvidas. Fantasias, desejos, temores, vergonha e culpas ocupam um tempo enorme na vida da maioria das pessoas.
Enquanto isso, grande número de mulheres não tem orgasmo e se desilude com a objetividade do homem. Quanto aos homens, o desempenho sexual se torna bastante ansioso, podendo levar a bloqueio emocional e disfunções como impotência e ejaculação precoce. Homens e mulheres são capazes de conseguir mais da própria vida sexual.
O psicoterapeuta e escritor Roberto Freire dizia que quando se passa a infância e a adolescência reprimindo a sexualidade das mulheres e formando-as na submissão e subserviência ao homem, no momento em que são autorizadas a praticar o sexo, o antigo e forte bloqueio se apresenta de modo inconsciente, impedindo-a de atingir o orgasmo.
Ele contou que curou mulheres anorgásticas ensinando-as a se comportarem livremente na cama com seus companheiros, sobretudo indo buscar seu prazer no corpo do parceiro e não apenas oferecendo-se a ele para que alcance o seu.
Para Freire, ser livre no sexo é primeiro admitir que ele seja uma relação com iguais direitos, possibilidades e satisfação de seus desejos. O egoísmo no sexo reduz apenas à metade a possibilidade do prazer. O prazer produzido no outro é tanto quanto o que é produzido em nós. "A frase seria assim: goza-se também e muito com a liberdade sexual do outro. "
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.